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terça-feira, 26 de março de 2013

ESPELHOS PARTIDOS




“Somos nosso passado. Somos este quimérico museu de formas inconstantes; este amontoado de espelhos partidos”.

Jorge Luís Borges


Por Maria Lucia Victor Barbosa



Para entender a América Latina, é preciso voltar no tempo como fiz em um dos meus livros, “América Latina – em busca do paraíso”. Constatar, tomando emprestada a expressão do genial pensador espanhol, José Ortega y Gasset, nossa “embriogenia defeituosa”.

E, apesar das diferenças entre a colônia portuguesa e as colônias espanholas, entender que as origens coloniais lusas fizeram igualmente de nós uma sociedade invertebrada.


Afinal não tivemos como na “Espanha invertebrada” de Gasset “a comunidade de propósitos” que faz com que grupos integrantes “convivam não por estar juntos, mas sim por fazer algo, juntos”.

Ao mesmo tempo, nossas sociedades desiguais, o isolamento entre as camadas sociais, a falta de “minorias seletas” que comandassem o processo de emancipação, a inexistência do espírito associativo – substituído pela vivência do pequeno mundo familiar ou clânico – gerarão o desequilíbrio estrutural cujas manifestações mais graves até hoje sentidas são: o atraso econômico, a mentalidade do atraso, o autoritarismo, o paternalismo, o clientelismo, o nepotismo, o patrimonialismo, e a corrupção endêmica.


No nosso subdesenvolvimento político e econômico somos envolvidos por um sentimento estranho, a um tempo de altivez e de inferioridade, sendo que preferimos descarregar nossa frustração em possíveis culpados utilizando, inclusive, a equivocada fórmula que diz que uns são pobres porque outros são ricos.

Assim, culpamos especialmente os Estados Unidos por nossas mazelas e fraquezas. Só nos esquecemos de perguntar o que fizemos a nós mesmos.


Fatos recentes ocorridos em nosso país e na América Latina demonstram que as características acima apontadas permanecem, pois fazem parte de uma cultura plasmada ao longo dos séculos. E aqui me refiro à cultura no sentido do complexo de valores, atitudes e comportamentos.

Um desses fatos foi a visita da corajosa dissidente cubana, Yoani Sanchez, que enfrenta a tirania dos irmãos Castro pedindo liberdade e democracia para seu país. Isto tem um preço na Cuba totalitária e Yoani o tem pagado com prisões e torturas. Entretanto, suas armas não são as armas assassinas de Fidel Castro e de “Che” Guevara, mas as palavras postadas no seu blog.

Pois bem, a mando do embaixador de Cuba, Carlos Zamora Rodriguez — mando esse que contou com o apoio do governo brasileiro – calúnias e difamações foram divulgadas, contra a moça, pela ‘REDEPT13’.

Note-se que, hipocritamente, petistas costumam falar em direitos humanos e democracia. Ao mesmo tempo, Yoani foi perseguida por grupelhos agressivos de ‘perfeitos idiotas brasileiros’. Eles foram uma espécie de milícia fascista à moda de Mussolini e de Chávez, e exerceram feroz intimidação que associa truculência, ignorância, fanatismo.

Os jovens que ajudam fazer do Brasil um satélite de Cuba são portadores da mesma idiotice analisada por Plinio Apuleyo de Mendoza, Carlos Alberto Montaner e Álvaro Vargas Llosa no “Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano”.

Essa “doença”, segundo Mario Vargas Llosa, que fez a apresentação do livro, não é congênita, mas tem outra índole:

“É postiça, deliberada e eleita, se adota conscientemente por preguiça intelectual, modorra ética e oportunismo civil”. “É ideológica e política, mas, acima de tudo, frívola, pois revela a abdicação da faculdade de pensar por conta própria”.


Outro fato marcante na América Latina foi a morte de Hugo Chávez, típico tiranete populista latino-americano que levou algum benefício aos pobres através de caridades oficiais, mas destruiu a economia venezuelana. Chávez, ao se perpetuar no poder, foi uma fraude democrática. Ele subjugou o Legislativo, o Judiciário e o Exército, impôs a censura dos meios de comunicação, perseguiu seus opositores de maneira implacável.

Até a sua morte, que não se sabe quando ocorreu realmente, foi envolvida numa rocambolesca e misteriosa farsa a cargo do sucessor por Chávez ungido para dar continuidade ao governo, Nicolás Maduro. Este mentiu o que pode, inventou lorotas, falou em mumificação do chefe e ocupou o cargo de presidente inconstitucionalmente. Agora está em campanha e certamente vai se eleger para que Chávez continue a governar do além.

O PT deve ter uma ponta de inveja do companheiro Chávez porque não conseguiu alcançar a radicalização venezuelana. Porém, está a caminho. Dilma, a sucessora ungida por Lula é presidente e candidata.

Portanto, ela tem a caneta e os recursos materiais das bondades, além do tempo que desejar na mídia. Um poder que os demais candidatos não dispõem o que dificulta enfrentá-la.


Ah, sim, e pela primeira vez, foi eleito um Papa latino-americano. Dilma disse que ele é normal (?), e que Deus é brasileiro.

Desconfio que seja argentino, pois elegeu um Papa da Argentina.

Talvez, o diabo seja brasileiro, pois a presidente em campanha jurou que vai fazer o diabo.


E assim vamos nós, sociedades em busca de si mesmas, tão parecidas entre si por serem os fragmentos de um espelho partido.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

mlucia@sercomtel.com.br
www.maluvibar.blogspot.com.br

23/03/2013

1 comentários:

Anônimo disse...

Sabe, não aceito mais essa babaquice. Tenho 50 anos, e acho que esta história de "veias abertas da América Latina" jjá deu o que tinha que dar. Me encheu tanto que me mudei pra Europa, e olhando a terrinha com olhos de quem a vê à distância ela me parece mais do que patética.
O Velho Mundo aqui somente no século XX passou por 2 guerras mundiais, uma Guerra Fria que ainda tem feridas em fase se cicatrização e a guerra local na ex-Iugoslávia. Subiu, desceu, caiu, se levantou 5 vezes nos últimos 150 anos. Não arrastou a colônia com eles na carnificina.
Nem conto as desgraças de antes disso: pestes, epidemias, guerras, mais guerras...
O povinho lamuriento da AL fala dos imperialistas europeus. Mas o POVO, o zé-povinho marmitão que toma ônibus aqui foi e ainda é a bucha de canhão. Não é a América Latina, mas é o coitado do pastor de ovelhas nos Pirineus que nunca viu um grama do ouro das Américas e ainda perdeu os carneiros quem paga mais o pato do que todos os lainoamericanis juntos.
Culpem-se, sim, os monarcas europeus por excessos, mas não o povo. Este sofre, morre e renasce. E BRIGA pelo seu direito.
Já os latino-americanos....
Portanto, a única coisa que ainda mantém "as veias abertas" é a suprema burrice e incompetència de nossos povos, aliados a atraso intelectual imperdoável, preguiça crônica e vício de lamúria.
Vão se coçar, cambada! Quem sabe as coisas melhorem!