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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Retórica do ódio

Da retórica do ódio à recriação da história
por Rolf Kuntz

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já foi comparado a um animador de programa de auditório. Mas ele é versátil. Quando se trata de inventar um inimigo da pátria, ele adota o estilo raivoso, rascante e rosnento imortalizado por Adolf Hitler. Usou esse estilo nesta semana, de novo, para falar de quem torce (quem, mesmo?) a favor da crise. É um dos talentos petistas: fantasiar o presente. Outro talento partidário é recriar a história. Foi demonstrado mais uma vez, quando se decidiu culpar o PSDB e o DEM pelos problemas decorrentes da crise internacional. Coube ao PT a virtude de aproveitar a prosperidade capitalista para conduzir o Brasil ao crescimento. Cabe aos adversários o crime de haver criado condições para isso.

Num país de muitos jovens, pouca leitura e pouca memória, a recriação do passado pelo bloco do "nunca antes" poderia colar. Mas nem todos são tão jovens e há documentos para a reconstituição dos fatos. Um desses é um texto de junho de 1984, assinado pelo secretário do PT, José Dirceu, contra a Aliança Democrática e o Colégio Eleitoral. Os petistas não participaram da campanha de Tancredo Neves. Não se envolveram na delicada construção da ponte para a democracia. Não deixaram a pureza ideológica, mas nunca recusaram desfrutar das vantagens do novo regime.

Produzir uma Constituição foi o grande passo seguinte para a consolidação da democracia. Petistas participaram, mas alguns decidiram não assinar o documento. O presidente Lula, ex-constituinte, lembrou esse episódio em discurso no dia 5 de novembro. "Nós, do PT, votamos contra o texto. Depois houve uma discussão se iríamos assinar ou não." Ele defendeu a assinatura. Seu pudor, na ocasião, deve ter funcionado.

Os arautos do Olimpo não deixaram, no entanto, de apoiar a limitação de juros incluída no artigo 192. Para isso, uniram-se a um empresário em má situação financeira e a fazendeiros interessados em baratear seus débitos bancários. Com o mais puro espírito revolucionário, aliaram-se ao grupo ruralista para impor uma derrota aos banqueiros. Se aquela estupidez tivesse prevalecido na prática, a política monetária teria sido entravada e o combate à inflação - invocado como grande feito do PT, nos últimos anos - teria sido impossibilitado.

Nos anos 90, o PT se opôs ao Plano Real. Se dependesse do partido eleito pelos deuses como portador do destino histórico do Brasil, a inflação seria combatida, de novo, com os controles de preços e outras feitiçarias desmoralizadas pela experiência e rejeitadas pelos neurônios ainda ativos na vida pública. Na Presidência, Lula vangloriou-se de haver rejeitado as mágicas econômicas. Isso permitiu, até agora, a combinação de crescimento e estabilidade.

O PT combateu o Plano Real, a renegociação da dívida dos Estados, a privatização ou reforma dos bancos estaduais e, portanto, as mudanças necessárias a um mínimo de ordem nas contas públicas e à revitalização da política monetária. Essa política seria inexeqüível, se o Banco Central continuasse forçado a sancionar a emissão de moeda pelos bancos estaduais, encarregados de financiar os desmandos praticados pelos mais irresponsáveis governadores.

O PT se opôs também à Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa lei foi a mais importante reforma político-administrativa depois de 1988. De certo modo, foi mais inovadora do que a Constituição, porque mexeu em velhos costumes políticos. Se dependesse do PT, não teria sido aprovada.

Gênios do PT, incluídos alguns de seus economistas mais conhecidos, apoiaram a realização de um plebiscito sobre a dívida pública. Em 2002, o crescimento do candidato Lula da Silva assustou os mercados financeiros. Nada mais natural, depois de toda a conversa irresponsável sobre renegociação da dívida (calote, em português corrente). O dólar subiu, o financiamento estrangeiro encolheu e os preços dispararam. Lula escreveu a Carta aos Brasileiros para prometer seriedade. A herança maldita havia sido preparada pelos petistas, empenhados, durante anos, em ameaçar os credores do Tesouro. Só um alienado menosprezaria o risco de um calote, especialmente depois da violência perpetrada por Fernando Collor de Mello.

O balanço é simples. Lula acertou ao desprezar as teses petistas. Errou ao seguir as bobagens defendidas pelos companheiros, como a diplomacia terceiro-mundista. As ameaças de calote dos vizinhos populistas são um capítulo dessa política. Mas estes são fatos, só isso. Fatos são secundários na retórica e na historiografia petistas.

*Rolf Kuntz é jornalista

1 comentários:

Anônimo disse...

Proliferam e-mails contrários ao Presidente Lula, com graçinhas e piadas, mas ele se mantém distante da casta elite ortodóxa, as pessoas inteligentes e mais letradas e, que quase sempre para subir um só degrau em seu próprio posto de trabalho ou na escalada social, tiveram que amargar anos e, mais anos de muito estudo, adquirindo um amontoado de conhecimentos e, nem mesmo assim, chegaram estes a conquistar um décimo do carisma e da boa sorte do nosso atual dirigente.

Talvez eu até o entenda melhor por ser autodidata, tendo aprendido às duras penas e, por dádiva divina, aquele seu jogo de cintura, o qual Lula bem dispõe a seu bel prazer, posando hoje dentre os líderes mundiais, com toda a pompa e desvelo, na sua simplicidade e tolerância, com ares de bonachão; como tantos que discorrem à respeito e, pensam, com sinceridade, que ele pode ser mau exemplo de sucesso, por não ter antes conquistado - como se diz cá no sul - um canudo de papel, que lhe outorgasse a autoridade para ser um vencedor, na mais completa acepção da palavra.

O Brasil jamais esteve em melhor posição diante do mundo! Enigma de difícil digestão aos literatos, pois em o querendo ou não, a base da pirâmide que o elegeu, o nosso bom povo brasileiro, entende seu linguajar e trocadilhos e, se orgulha mesmo ao ver um dos seus, no poder.

Por sua vez Lula, independente e próspero, vai levando em frente o País, acima dos escândalos d'antes bem ocultos e, ora escancarados à público e, faz juz a mídia e TV, dando bom Ibope.

Quando é chegada a hora e a vez de alguém, não adianta lutar contra a maré. Como diz o antigo dito popular: ' Se não pode com o seu inimigo, una-se a ele!'

Roseli Busmair
Autodidata

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