Por Augusto Nunes
Se enriqueceu sem pecar, Antonio Palocci poderia ter esclarecido o caso da multiplicação do patrimônio no mesmo dia em que foi divulgado pela Folha de S. Paulo. Bastaria solicitar aos clientes da Projeto que, para livrar o chefe da Casa Civil de constrangimentos e poupar o país de outra crise política, abrissem mão da cláusula de confidencialidade e permitissem a divulgação de informações básicas.
Todos certamente o autorizariam a revelar os nomes das empresas que contrataram seus serviços e dizer quanto cobrou de cada uma.
A opção pelo silêncio que já dura 17 dias foi o primeiro indício veemente de culpa.
O segundo foi a contratação do advogado José Roberto Batochio sem ter virado réu oficialmente.
A terceira evidência de que Palocci tem culpa no cartório ocorreu nesta quarta-feira, assim que circulou a notícia de que o ministro fora convocado para depor na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados (veja o vídeo abaixo).
Apavorados com a rachadura na blindagem, os chefes da aliança governista prometem fazer coisas de que até Deus duvida para impedir o depoimento.
É provável que Palocci escape da ameaça.
Mas algum dia terá de explicar-se. E não há explicações plausíveis.
“A crise é de inteira responsabilidade do Palocci”, diz o senador Walter Pinheiro, do PT baiano. “Não é do governo nem do PT”.
Talvez seja, sugere a inquietação dos parceiros da base alugada.
Desse total, R$ 7,4 milhões foram gastos na compra de um apartamento e um escritório.
Sobram R$ 12,6 milhões.
Onde estão?
Guardados em bancos?
Embaixo de colchões?
Foram aplicados de alguma forma?
Não sobrou nenhum centavo para o partido?
Só depois das respostas a tais perguntas o senador baiano saberá se pode mesmo dormir sem sobressaltos.
A destinação do dinheiro é tão nebulosa quanto a origem. Na reunião com Dilma Rousseff e os senadores do PT, o médico sanitarista admitiu que ganhou muito dinheiro como consultor econômico e financeiro.
Mas limitou-se a revelar um único trabalho pesadamente remunerado (recebeu R$ 1 milhão em troca de “consultas” a duas empresas interessadas em fundir-se) e o preço de cada palestra que andou ministrando: entre R$ 20 mil e R$ 30 mil.
É improvável que tenha conseguido como palestrante os R$ 19 milhões que faltam.
Nos últimos quatro anos, dispôs de 1.040 dias úteis (incluídos feriados e feriadões). A conta só fecharia se, paralelamente às atividades de deputado federal, Palocci tivesse feito 633 palestras, duas a cada três dias, cobrando o preço máximo por apresentação.
Caso consiga safar-se das evidências de que subiu na vida como traficante de influência, o ministro terá consumado um segundo milagre de espantar os santos mais poderosos.
O primeiro foi a própria multiplicação do patrimônio, comprova a nota divulgada pelo jornalista Ancelmo Gois em sua coluna no jornal O Globo.
Diz o seguinte: “A conta, de brincadeira, claro, é do consultor Maurício Hissi, o Bastter.
Se Palocci multiplicasse seu patrimônio por 20 a cada quatro anos, bastariam 17 anos para acumular R$ 129 trilhões (ou US$ 80 trilhões) e ser dono de todo o dinheiro do mundo”.
É difícil entender o apego de Palocci ao emprego.
Não vai recuperar o poder que tinha.
Melhor aproveitar a vida e disputar a liderança do ranking dos homens mais ricos do planeta.
01/06/2011
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