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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Só a identificação dos clientes poderá esclarecer se Palocci enriqueceu como consultor ou traficante de influência


Lula disse durante oito anos e Dilma Rousseff repete há quatro meses que, desde 1° de janeiro de 2003, o Brasil é governado por gente que só pensa em resolver os problemas dos pobres.

Desde que não atrapalhem a vida dos ricos de estimação criando problemas que o governo é obrigado a resolver, confirma a entrevista de Francenildo Costa ao site de VEJA.

O apego à verdade custou ao caseiro da República de Ribeirão Preto o estupro do sigilo bancário, um interrogatório na Polícia Federal, a acusação de ter recebido de partidos de oposição os R$ 30 mil depositados pelo pai biológico e a perda do emprego.

A opção pela mentira tornou ainda melhor a boa vida de Antonio Palocci.

Aconselhado a afastar-se do Ministério da Fazenda depois da violação da conta de Francenildo na Caixa Econômica Federal, jamais confessou que foi o mandante do crime.

Apesar disso, ou por isso mesmo, elegeu-se deputado federal em outubro do mesmo ano, reforçou as ligações com o Planalto, aproximou-se ainda mais de Dilma Rousseff durante a campanha e voltou ao coração do poder como chefe da Casa Civil.

Entre 2006 e 2010, soube-se agora, encontrou tempo para multiplicar por 20 o patrimônio.


O médico sanitarista que nunca clinicou virou consultor financeiro sem diploma de economista. E ficou rico.

O destino só foi inclemente com a vítima.


Por ter confirmado que Palocci frequentava regularmente a mansão que jurou não conhecer, Francenildo nunca mais conseguiu emprego fixo. Continua pobre. Sobrevive com trabalhos temporários, que lhe rendem mensalmente pouco mais de R$ 1 mil, e segue à espera da indenização que a Caixa tenta não pagar, fixada pela Justiça em R$ 500 mil.

Só o apartamento novo de Palocci, comprado por R$ 6,6 milhões, vale 13 vezes mais que isso.

Francenildo parece menos intrigado com o preço do imóvel do que com o estridente silêncio do ministro.

Cinco anos depois do estupro da conta do caseiro, Palocci invoca a cláusula de confidencialidade inserida nos contratos para manter em sigilo a lista dos clientes que o transformaram num dos mais prósperos consultores do país. “Por que ele não explicou de onde veio o dinheiro? Na minha época eu tive de explicar”, lembra o antigo caseiro da mansão em que Palocci descansava dos serviços prestados à nação.

Com a naturalidade dos que não têm culpa no cartório, Francenildo deduz que isso é coisa de culpado.

“O cara que não diz de onde veio o dinheiro é porque o dinheiro é suspeito”
, resume. Se não tivesse nada a esconder, raciocina, bastaria a Palocci revelar os nomes dos clientes.

Ao escondê-los, reforça a versão segundo a qual quase todos os fregueses tiveram ou têm pendências a resolver com o governo de que Palocci sempre fez parte, com ou sem gabinete no Planalto.

Para localizar o caminho das pedras, contrataram não o consultor financeiro que o ex-ministro nunca foi, mas o político que sempre será.

A carta endereçada aos congressistas que o infiltrou na seleção de craques do mercado financeiro foi outra má ideia. “Persio Arida, André Lara Rezende, Pedro Malan e Mailson da Nóbrega têm atividade privada de conhecimento público, Palocci manteve atividade secreta no exercício da função pública”, replicou o deputado baiano Jutahy Magalhães.

Nenhum deles foi deputado nem se interessou pela carreira política, poderia ter acrescentado o parlamentar tucano. Já eram economistas respeitados antes da passagem pelo poder. E, por serem identificados com a oposição, não têm a chave das portas secretas que Palocci carrega há mais de oito anos.

Nesta quarta-feira, em seu blog, o ex-governador Alberto Goldman pôs o dedo na ferida que a oposição oficial finge não enxergar: “Palocci não apenas usou de seus conhecimentos adquiridos, o que seria legal e moralmente aceitável, mas usou de sua influência sobre um governo que, mesmo fora dele, ainda em grande parte comandava”, constatou Goldman.

O que Palocci fez é muito parecido com o que faz José Dirceu. Se não divulgar a lista de clientes, o chefe da Casa Civil estará confessando que enriqueceu não como consultor, mas como traficante de influência.

Isso é mais que uma ilegalidade.

É uma obscenidade criminosa
.
Direto ao Ponto

19/05/2011

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