Joaquim Barbosa durante evento do PSB em Brasília
UESLEI MARCELINO / REUTERS
SÃO PAULO - Um dos fatores que pesaram para o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa desistir de disputar a Presidência da República pelo PSB foi o envio na segunda-feira de uma denúncia sobre corrupção na gestão do ex-governador Eduardo Campos, morto numa acidente aéreo em 2014, para o juiz Sergio Moro. As acusações têm como alvos, entre outros, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) e o empresário Aldo Guedes Alvaro, ex-sócio de Campos num empreendimento agrícola no interior de Pernambuco.
Reconhecido como um dos expoentes da luta contra a corrupção por causa de sua atuação como relator do mensalão, Barbosa correria o risco de ver a legitimidade de seu discurso questionada numa eventual campanha eleitoral em virtude das irregularidades listadas na denúncia. Quando morreu, Campos era candidato a presidente da República e presidente nacional do PSB. A expectativa agora é que o caso ganhe celeridade na primeira instância e avance bem no período da campanha eleitoral.
Na segunda-feira, com base na decisão da semana passada do plenário do STF que limitou o alcance do foro privilegiado, o ministro Fachin determinou o envio da denúncia contra Bezerra para Moro. O senador foi denunciado pela Procuradoria Geral da República em 2016 no âmbito da Lava-Jato, acusado de receber propina de R$ 41,5 milhões das empreiteiras Queiroz Galvão, OAS e Camargo Corrêa referentes a execução das obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest). Os recursos teriam como objetivo abastecer a campanha à reeleição de Campos, em 2010.
Na gestão Campos, Bezerra, na época filiado ao PSB, foi secretário de Desenvolvimento Econômico e presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape. O senador rompeu com o grupo de político de Campos em Pernambuco no ano passado por discordar da decisão do PSB de fazer oposição ao governo do presidente Michel Temer e se filiou ao MDB.
Em memorial distribuído aos ministros do STF em que pede o envio da denúncia à primeira instância, a procuradora-geral da República Raquel Dodge diz que quebra de sigilo telefônico revelou a autuação de Aldo Guedes como operador de propina em favor da campanha de Campos. Também sustenta que os pagamentos feitos tiveram como contrapartida benefícios em contratos administrativos de obras de infra-estrutura, elaboração de leis e incentivos tributários concedidos pelo estado de Pernambuco para viabilizar a Rnest.
Guedes era sócio de Campos desde 2000 na Agropecuária Nossa Senhora de Nazaré, empresa que tinha objeto social o cultivo de café e a criação de gado para corte e leite. Ele também foi nomeado por Campos para presidir a Copergás, empresa de economia mista responsável pela distribuição de gás no estado.
O vice-presidente nacional do PSB, Beto Albuquerque, nega que a denúncia contra Bezerra tenha relação com a decisão de Barbosa de desistir da disputa presidencial deste ano.
— Isso é problema do senador. Não tem nada a ver com Eduardo Campos. Denúncia para falar de morto é sempre fácil. Todo mundo descarrega no morto os seus erros, os seus crimes. Pelo que sei, o Fernando Bezerra nunca foi uma pessoa da confiança do Eduardo para fazer absolutamente nada — diz o dirigente do PSB.
Albuquerque atribui a desistência exclusivamente às questões familiares de Barbosa, que conta com o dinheiro que recebe na elaboração de pareceres jurídicos para ajudar financeiramente parentes.
— A gente lamenta muito a desistência, mas antes tarde do que nunca. Se é para ir para a guerra com um soldado titubeante, é melhor não ir.
08/05/2018
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