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quinta-feira, 12 de abril de 2018

Lava-Jato cumpre mandados de prisão contra o lobista Milton Lyra e ex-secretário do PT


Força-Tarefa mira operadores de políticos que atuaram nos fundos de pensão do Postalis e do Serpro

Por Chico Otavio / Daniel Biasetto
O Globo

Preso na Lava-Jato, o ex-assessor nacional de comunicação do PT, Marcelo Sereno, chega à sede da Polícia Federal
Gabriel de Paiva / Agência O Globo

RIO — Agentes da Polícia Federal (PF) cumprem dez mandados de prisão preventiva contra suspeitos de participar de um esquema de lavagem de dinheiro e pagamento de propina para gestores dos fundos de pensão dos Correios (Postalis) e do Serpros, empresa pública de tecnologia da informação (Serpro). Liderada pelo Ministério Público Federal (MPF), a ação conhecida como "Operação Rizoma" é mais um desdobramento da Lava-Jato no Rio. Um dos investigados, Arthur Pinheiro Machado, foi preso em São Paulo.

Entre os alvos estão o lobista Milton Lyra, citado em operações anteriores como operador de políticos do PMDB e cujo mandado será cumprido em Brasília; Marcelo Sereno, ex-secretário nacional de comunicação do PT; e Arthur Pinheiro Machado, apontado como operador e criador da Nova Bolsa, que recebeu aportes financeiros dos dois fundos de pensão. Todos os pedidos de prisão foram expedidos pelo juiz da 7ª Vara Federal Criminal, Marcelo Bretas.

A operação acontece no mesmo dia em que outra ação da PF e de auditores da Receita Federal cumpre 20 mandados de prisão para investigar um esquema que teria cometido fraudes em institutos de previdência municipais. Uma das presas é Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, o primeiro investigado da Lava-Jato. Ela colaborou com as investigações da operação, mas não firmou acordo de delação premiada. De acordo com a PF, na operação que envolve previdências municipais, são investigados 28 institutos de cidades nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso, Santa Catarina e Goiás. Eles teriam investido em fundos que faziam investimentos sem lastro. A fraude chegaria a R$ 1,3 bilhão.

Na operação envolvendo Postalis e Serpros, um efetivo de 140 policiais federais cumpre, além dos 10 mandados de prisão preventiva, 21 de busca e apreensão no Rio, São Paulo e Distrito Federal.

Agentes da Polícia Federal cumprem mandado na casa de Milton Lyra em Brasília
Reprodução / Globonews

De acordo com o MPF, a empresa de Machado (que tinha 38 outras empresas associadas ao seu CNPJ) recebia dinheiro dos fundos concomitantemente a um contrato de câmbio com empresas de fachada, pertencente a Edward Penn, operador que trabalha nos Estados Unidos. Machado fez um contrato de câmbio para importação de softwares das empresas americanas de Edward Penn. Essas importações eram fraudulentas.

A compra seria simulada por Machado, que enviava o dinheiro para o exterior. A partir da colaboração premiada do empresário Alessandro Laber, os investigadores puderam verificar que o dinheiro das compras era remetido para fora do país, tendo a participação dos doleiros Vinicius Claret, conhecido como Juca Bala, e seu sócio, Cláudio Fernando Barbosa, o Tony, ambos acusados de envolvimento em operações de lavagem de dinheiro do esquema do ex-governador do Rio Sérgio Cabral. Eles repassavam o dinheiro depois para pessoas indicadas por Machado. A Lava-Jato aponta a conexão dos fundos de pensão com os doleiros, Juca Bala e Toni, como sendo o elo entre o esquema de lavagem já usado pelo grupo de Cabral.

Juca e Toni usavam o mesmo esquema do ex-governador para pagar os gestores dos fundos, indicados por Machado.

Além de Machado, Penn, Sereno e Lyra, São ainda alvos de mandado de prisão Patrícia Iriarte, apontada como operadora do esquema junto a Machado; Adeilson Ribeiro Telles e Henrique Barbosa da Postalis; Ricardo Siqueira Rodrigues, operador financeiro; e Carlos Alberto Valadares Pereira da Serpro.

O Rizoma, que dá nome à Operação, é uma espécie de caule das árvores que se ramifica sob a terra conforme cresce. A PF escolheu o termo em alusão ao processo de lavagem de dinheiro e ao entrelaçamento existente entre as empresas investigadas no esquema.

Marcelo Sereno, ex-secretário nacional de comunicação do PT Delator
Marcelo Piu / Agência O Globo



REPASSES MILIONÁRIOS

Ainda de acordo com as investigações, Sereno teria recebido do esquema de R$ 900 mil; Milton Lyra, um total de US$ 1 milhão entre 2013-14 e Gandola o valor de R$ 400 mil.

Montado em 2010 pela Americas Trading Group (ATG), empresa brasileira de tecnologia, o projeto de criação de uma plataforma eletrônica de negociação — uma nova bolsa de valores — pretendia competir com a Bolsa de São Paulo (Bovespa) e com a Bolsa de Mercadorias e Futuro (BM&F). Na ocasião, o diretor-executivo da ATG, Arthur Pinheiro Machado, fechou uma parceria com a NYSE Euronext, referência internacional em operações financeiras, que passou a ser representada na sociedade pela Marco Polo Netwok Inc.

A geração de recursos em espécie no Brasil de forma ilícita também foi feita mediante a transferência de recursos do Grupo ATG para a empresa Laber Serviços Empresariais do colaborador, no Brasil, a título de pagamento de prestação de serviços fictícios, no valor de R$ 9 milhões, dos quais R$ milhões foram repassados por Machado a Alessandro Laber, por meio de pró-labore de uma empresa chamada Bridge.

Os fundos de pensão são um tipo de investimento no qual o trabalhador contribui com uma parte do salário para ter uma renda maior na hora de se aposentar. Com patrimônio bilionário, injetam o dinheiro em aplicações e projetos em busca de retorno financeiro. Sob influência de políticos, negócios arriscados podem resultar em prejuízos e colocar em risco a aposentadoria extra de milhares de trabalhadores.

OUTROS LADOS

A defesa de Edward Penn afirma que seu cliente sempre pautou suas atividades empresárias com a maior lisura possível. Na casa dele, foram encontrados cerca de R$ 400 mil, US$ 850, 955 euros e 637 pesos argentinos.

Já os advogados de Arthur Pinheiro Machado e de Patrícia Iriarte negam, por parte de seus clientes, qualquer relação entre os empresários e os atos ilícitos demonstrados pelo MPF.

Advogado de Marcelo Sereno, Afonso Destri negou as acusações contra ele e disse que vai questionar a competência do juiz Marcelo Bretas para tratar do caso. O rigor de Bretas tem sido comparado ao do juiz Sergio Moro, responsável pela Lava-Jato em Curitiba. Destri afirmou ainda que Sereno não participou de nenhum dos fatos citados pelo Ministério Público Federal:

- Ele não tinha qualquer ingerência nos fundos de pensão.

A defesa de Milton Lyra afirmou que seu cliente entrou em contato com a Polícia Federal para apresentar-se em São Paulo e que está, e sempre esteve, à disposição para colaborar com a Justiça e com a investigação.


12.04.2018


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