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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

O ocaso do PT


Longe do poder e atolado em corrupção, o partido terá dificuldades para manter a militância e vê seu fim cada vez mais próximo

Pedro Marcondes de Moura
IstoÉ


A saída de Dilma Rousseff do Palácio da Alvorada pelas portas dos fundos da história simboliza mais do que o desfecho de 13 anos do Partido dos Trabalhadores à frente do País. Marca o sepultamento petista. Aquele PT, fundado sob a insígnia da ética, não existe mais. A legenda da estrela vermelha será lembrada com o carimbo de corrupção estampado nas suas cinco pontas. Três de seus tesoureiros, entre eles Delubio Soares e João Vaccari Neto, foram ou estão presos. Convivem atrás das grades com dirigentes, como José Dirceu. Nem a biografia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobreviveu às manchas do Petrolão. Ele mesmo tem a cadeia como horizonte (mais na pág.88). Uma decepção que engrossa a diáspora do PT. Um quarto dos 650 prefeitos, um sexto dos 12 senadores e um quinto dos 80 deputados federais saíram desde 2012. Os que ficaram escondem a filiação e torcem para não entrar na estatística do ocaso. Desde 2004, o número de prefeitos petistas cai nas capitais. Foram de nove para três e, ao depender das pesquisas, não serão mais de dois em janeiro. Isto, claro, se o PT ainda existir. Um processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pode levar à cassação do partido por receber recursos desviados da Petrobras.


A decadência petista

O PT se apequena a cada pleito. Em decadência nas grandes cidades, sua base eleitoral migrou para municípios pequenos do norte e nordeste. São áreas dependentes da máquina pública e que tendem a acompanhar a rejeição dos principais centros em um processo que deverá se acelerar com o partido fora do governo. O PT segue a rota das legendas condenadas ao ostracismo. A equação “crise econômica, impeachment e corrupção” aflorou o antipetismo nos seus tradicionais redutos. É o que ocorre em São Bernardo do Campo, onde Lula ganhou fama ao liderar greves na década de 70. Lá a associação com a legenda se tornou um fardo e a candidatura do partido patina. Na capital paulista, o prefeito Fernando Haddad amarga pífios 9% de intenções de voto. “O PT é impopular, principalmente no Estado de São Paulo. Virou uma sigla de grotões. Foi algo que ocorreu com o PFL, que só renasceu graças a novas lideranças e após ser rebatizado como DEM”, diz o consultor político Gaudêncio Torquato. “Será difícil ao PT reverter. É um partido velho e com pouca renovação”, complementa. Para se ter ideia, a falta de nomes fez com que o PT lançasse o menor número de candidatos a vereador e a prefeito em duas décadas.

Ilustração: Nilson Cardoso


A ausência de perspectiva de poder e a mácula da corrupção intensificam a debanda petista. O controle da máquina federal evitou que a saída fosse maior. Cerca de trinta congressistas ensaiaram deixar o PT. Foram demovidos de acompanhar o rumo de militantes históricos, como os senadores Marta Suplicy e Walter Pinheiro, graças à distribuição de cargos. Não há mais caneta para acalmá-los. Pelo contrário. Investigações, como a Lava Jato, devem chegar a mais quadros. Um cenário que favorece a saída de integrantes mais à esquerda que há tempos mostram contrariedade com as correntes majoritárias. Nem o fiador da unidade partidária, o ex-presidente Lula, pode estancar a sangria. Ele perdeu o respeito de antes. O status de réu o torna um líder incômodo.


“O PT segue uma rota em direção ao ostracismo.
O antipetismo cresce até nas cidades onde
o partido nasceu e ganhou musculatura”

O PT, presidido por Rui Falcão, comprometeu um de seus ativos: a capacidade de mobilização.Os anos no poder levaram parte da militância a trocar o fervor das ruas pelos gabinetes. Aqueles voluntários que confeccionavam bandeiras e distribuíam panfletos em disputas eleitorais ficaram para a história. Foram trocados por campanhas bilionárias feitas por marqueteiros remunerados com caixa dois no Brasil e no exterior. Tudo bancado com recursos desviados. Dinheiro que também viciou os movimentos sociais. CUT e MST, embriões do partido, abandonaram a postura combativa em troca de verbas. Viram outras forças cresceram e ocuparem seus espaços.

O FIM ANUNCIADO

Fora do poder, o PT corre o risco de desaparecer. Confira:


> Com rejeição histórica, o partido deverá enfrentar nas eleições deste ano uma derrota acachapante

> Integrantes históricos articulam, nos bastidores, uma debandada em massa

> O partido perdeu a capacidade de mobilização e renovação de quadros. Suas bases sociais perderam espaço

> A Lava Jato deve alcançar o ex-presidente Lula e outros líderes
> Procedimento do TSE pode cassar o PT por receber recursos desviados do Petrolão

O drama petista vai além. O partido corre o risco de ser cassado. Em agosto, o ministro Gilmar Mendes enviou um ofício à corregedoria do TSE pedindo a instauração de um “exame de escritura do partido”. Na prática, um procedimento que pode levar a extinção do registro pelos crimes evidenciados na Lava Jato. Baseia-se naquilo que já ficou comprovado. A cúpula do partido se estruturou como uma organização criminosa. Pilhou a estatal por um projeto de poder, que elegeu Lula, Dilma e previa eternizar a sigla. Petistas, a exemplo da senadora Gleisi Hoffmann, podem alegar que a decisão remonta aos tempos da ditadura. Mas é falácia. Foi o PT quem desvirtuou a democracia ao fazer dos cofres públicos uma fonte para se perpetuar no comando do País. A estratégia só virou um tiro no pé porque acabaram apanhados no flagra.


01.09.16

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