Por Reinaldo Azevedo
A agência de classificação de riscos Standard & Poor’s rebaixou a nota do Brasil de BBB para BBB-. A decisão reflete o pessimismo dos agentes econômicos.
Eu explico. Entre os dias 10 e 13 de março, Lisa Schineller, diretora da S&P, esteve no Brasil com a sua equipe, conversando com representantes do setor privado. Uma agência de rating, que avalia a capacidade de pagamento de governos e empresas, analisa os números, os dados técnicos, mas pesam também os fatores, digamos, humanos, políticos.
Se há uma crença generalizada de que o governo vai fazer tudo certo, ainda que os números não estejam muito bons, a tendência é adiar o rebaixamento na expectativa de uma melhora. Se, ao contrário, a maioria aposta que o governo vai fazer tudo errado, então os números negativos apressam o rebaixamento.
Foi o que aconteceu. Lisa e sua equipe colheram dos agentes econômicos do setor privado as piores impressões. Pouca gente confia no governo, e esse é um problema grave.
O que é a chamada “classificação de risco”? As agências avaliam se há a possibilidade de o país em questão dar calote na sua dívida. Quando conclui que não há, o país passa para a categoria de “grau de investimento”. Ocorre que, dentro dessa categoria positiva, há 10 níveis: o menor bom nível da S&P é BBB- e o maior é AAA. Quanto mais alto estiver o país, menos juros ele paga para financiar suas operações no mercado internacional.
O Brasil estava, segundo a classificação da S&P, no penúltimo dos bons degraus: BBB. Agora, passou para BBB-. Qual é o risco? Abaixo do BBB-, já se entra no grupo dos maus pagadores, que é chamado “Grau especulativo”. Também nesse grupo há degraus: no caso, são 11. O melhor dos piores é “BB+”. O pior dos piores é “C”. Segundo a Standard&Poor’s, o governo brasileiro está perdendo margem de manobra e está mais exposto a choques externos.
Escreve a S&P: “A perspectiva de baixo crescimento reflete fatores cíclicos e estruturais, incluindo o nível de 18% de investimentos em relação ao PIB e a desaceleração no mercado de trabalho. Combinados, esses fatores configuram a capacidade reduzida de manobra do governo no caso de choques externos”.
As agências de classificação de risco caíram em certo descrédito depois de 2008, com a crise das hipotecas nos EUA. Não sem razão. Por isso mesmo, elas têm sido mais rigorosas em suas avaliações. O governo tem recorrido a uma verdadeira guerra de propaganda para tentar evitar rebaixamentos da agências. Até o ex-ministro Delfim Netto, que já foi um saco de pancada do petismo no passado, entrou em campo.
Delfim chegou a afirmar na semana retrasada, logo depois da passagem de Lisa pelo Brasil, que estava convicto de que a Standard & Poor’s não rebaixaria o Brasil porque o país faria o superávit de 1,9% do PIB e porque, segundo disse, a presidente Dilma teria mudado, estando disposta a corrigir os preços dos combustíveis e da energia elétrica, o que levaria a uma redução do consumo, afastando o risco de apagão.
Petrobras e Eletrobras
A S&P também rebaixou o rating global da Petrobras e da Eletrobras. A primeira também passou do triplo B para o triplo B negativo, mesma queda sofrida pela Eletrobras em moeda estrangeira. Em moeda nacional, a estatal do setor elétrico caiu de A- para triplo B.
Parece que os representantes da S&P que andaram por aqui, a exemplo dos representantes do setor privado, estavam bem menos otimistas do que Delfim.
No ranking da S&P, agora, o Brasil está a um nível do grau especulativo. A gente pode fazer uma de duas coisas: xingar as agências ou torcer para o governo arrumar as contas. Prefiro a segunda opção.
24/03/2014
terça-feira, 25 de março de 2014
Rebaixamento do Brasil, da Petrobras e da Eletrobras reflete pessimismo dos agentes econômicos; lobby do governo para evitar rebaixamento dá errado
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