Como tem operado o ex-ministro que depois de ser levado duas vezes ao ostracismo volta à cena política com a missão de aproximar o governo de empresários e banqueiros
Por Mário Simas Filho
IstoÉ
Por Mário Simas Filho
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Logo depois do Carnaval, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu um recado de um diretor da Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – informando que diversos empresários estariam sendo seduzidos pelo discurso de um estado ágil, enxuto e menos intrometido apresentado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) em reuniões com pequenos grupos de industriais. Dias mais tarde, o ex-ministro José Dirceu relatou a Lula, durante um jantar em São Bernardo, uma crescente insatisfação do setor de logística com a gestão da presidenta Dilma Rousseff. Como conhece muito bem a força do empresariado em uma disputa presidencial, Lula resolveu trazer de volta ao tabuleiro um velho bombeiro, tarimbado na prática de apagar os incêndios que costumam colocar o setor produtivo e o PT em lados opostos: Antônio Palocci.
Na primeira semana de março, o ex-ministro, que estava havia quase dois anos longe dos holofotes e raramente mantinha contatos políticos, atendeu ao chamado de Lula. Foi ao Instituto Cidadania, QG lulista em São Paulo, e, depois de conversar por quase três horas com o ex-presidente e dois assessores, aceitou o desafio de mais uma vez aparar arestas entre o partido e os empresários. Palocci passou a fazer semanalmente avaliações da política econômica – tarefa também realizada pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo – e a participar de encontros reservados com empresários e banqueiros. A maioria das reuniões ocorre sem a presença de Lula. “Assim como atuou durante a campanha em 2002, Palocci é uma espécie de avalista da política econômica de Dilma junto ao empresariado”, disse à ISTOÉ um dos assessores de Lula presentes no encontro no Instituto Cidadania. Desde aquele dia, a participação política de Palocci vem aumentando, ainda que só nos bastidores.
Em 25 de março, o ex-ministro participou ao lado de Lula de um evento fechado no hotel Mercury, em São Paulo, onde foram discutidas a política de juros e a questão do crescimento da inflação e seus possíveis reflexos para a eleição do próximo ano. Também estavam presentes os professores Marco Aurélio Garcia e Luiz Dulci. O objetivo do encontro era buscar uma linguagem comum para a defesa do governo Dilma junto ao empresariado. Outra missão foi dada a Palocci logo na primeira semana de abril. Na sexta-feira 5, um grupo de empresários ligados à indústria de base se reuniu com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Na avaliação feita pelo governo o encontro foi péssimo e serviu apenas para que os empresários criticassem o governo e o que classificaram como “amarras impostas pelo estilo Dilma de administrar”. Na semana seguinte, Palocci entrou em campo. Por mais de três horas ele se reuniu com representantes da Abdib (Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base) para tentar aplacar o mal-estar. Segundo um dos presentes, durante o encontro Palocci chegou a adiantar a um grupo de empresários as medidas que o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, tomaria para investir no setor industrial ainda em 2013.
No início de abril, Palocci se encontrou com empresários
da indústria de base para desfazer mal-estar do setor
como presidente do BC, Alexandre Tombini
No PT, as novas movimentações de Palocci foram inicialmente aplaudidas. O presidente nacional do partido, deputado Rui Falcão, chegou a participar de alguns encontros com o ex-ministro e tem ciência de que Palocci é o melhor interlocutor petista do governo com a iniciativa privada. O problema é que, com o aval de Lula, nas últimas semanas o ex-ministro passou a avançar em outras áreas, o que tem incomodado alguns setores do partido. “Ele é o único que pode em pouco tempo reaproximar os empresários do governo”, disse um dos assessores do Instituto Cidadania a um prefeito petista na segunda-feira 8. “Mas o Lula precisa delimitar o espaço, porque Palocci é um trator”, completou. Na quarta-feira 3, durante sete horas o ex-ministro esteve reunido com Falcão, Lula e a presidenta Dilma no hotel Unique, em São Paulo. Na pauta estava a sucessão estadual e dois possíveis candidatos ao governo paulista participaram de parte do encontro: Aloyzio Mercadante, ministro da Educação, Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo. De acordo com um dos presentes, durante a reunião Lula pediu abertamente sugestões a Palocci para iniciar uma estratégia capaz de atrair banqueiros para o projeto petista em São Paulo. Em uma conversa reservada, porém, o ex-presidente teria pedido ao ex-ministro que sondasse junto aos banqueiros qual dos pré-candidatos petistas seria aceito com maior entusiasmo. Em 2010, apenas 7% dos recursos da campanha de Dilma vieram dos grandes bancos.
Essa é a terceira vez que Lula tira Palocci das fronteiras de Ribeirão Preto, no interior paulista, para lhe dar musculatura política e projeção nacional. Em 2002, quando a possibilidade de o ex-sindicalista chegar ao poder ainda assombrava as elites, Palocci foi um dos principais responsáveis pela carta aos brasileiros – documento que acalmou o empresariado, já que nela o PT e Lula se comprometiam a cumprir os contratos estabelecidos. Durante a campanha, o médico que militou em grupos de esquerda e que como prefeito promoveu uma gestão marcada pelas privatizações fez a interlocução com os empresários. No Ministério da Fazenda, Palocci conduziu uma política ortodoxa, impondo um arrocho capaz de fazer inveja a qualquer tucano. Era o homem mais poderoso da Esplanada dos Ministérios, mas caiu depois de flagrado em uma mansão de Brasília onde lobistas de Ribeirão Preto promoviam animadas festinhas. Para tentar se defender recorreu a um método pouco republicano: quebrou o sigilo bancário de um caseiro. Abatido, voltou para Ribeirão Preto e permaneceu na penumbra política até a eleição de 2010. Depois de escolher Dilma como candidata, Lula trouxe Palocci novamente à luz, para mais uma vez avalizar o PT junto à elite econômica e financeira. O sucesso da missão fez dele um poderoso ministro da Casa Civil e homem forte do governo. Em junho de 2011, menos de seis meses depois de retornar à corte, caiu novamente. Dessa vez por não conseguir explicar a multiplicação de seu patrimônio através de uma empresa privada de consultoria.
Com as novas atribuições, a empresa vem sendo tocada por um sobrinho do ex-ministro, André da Silva Palocci, e os negócios em Ribeirão Preto foram delegados a Galeno Amorim, um dos seus homens de confiança. De forma bem mais discreta do que as anteriores, Palocci parece estar pronto para agarrar a chance de começar uma terceira vida com dimensão nacional.
Colaborou Josie Jerônimo
13.Abr.13
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