Na semana que vem é fim do mês e fim do 1.º semestre de Dilma Rousseff. Tipo de efeméride que a imprensa gosta. Serão providenciados vários balanços e diversas pesquisas procurando dar conta dos erros e acertos da presidente no período.
E, a exemplo do que acontece com qualquer governo, a imprensa também cometerá vários erros e acertos nas suas avaliações dos seis meses.
A vantagem da imprensa é que ela pode desdizer amanhã o que disse hoje, e isso não cria muito problema a não ser para sua própria credibilidade. Já um governo tem de dizer e fazer coisas, muitas vezes a toque de caixa, que podem ter pesada repercussão para a população e para o futuro do País.
Qualquer brasileiro com pelo menos 50 anos de idade pode citar meia dúzia de decisões governamentais que prejudicam o País e os jovens até hoje - e não estamos falando só da área do ensino, que é rica de exemplos.
O que nos parece indiscutível a essa altura é que o governo Dilma até agora não tem cara. Não a mostrou, pelo menos. Talvez seja cedo para dizer, mas ela parece não ter certeza de que uma política de protagonismo afirmativo pessoal seja um bom caminho: poderia talvez melindrar o seu patrono? Sem dúvida, dadas as vastas proporções do ego do antecessor, de quem recebeu as chaves do reino.
Mas o fato é que ela precisa mostrar sua cara não para inflar sua vaidade, ou para distanciar-se do mestre, mas em benefício do País e da sua governança. O Brasil está em fase de muita bonança no cenário internacional - tanto porque sua economia tem ido bem como porque as economias dos outros países não estão indo nada bem.
Fosse quem fosse, nessa hora, nosso chefe de governo - homem ou mulher, político ou técnico - teria de exibir bom discernimento, muita lucidez e firmeza de comando na administração e perante o público, para poder complementar, com essas qualidades, entre os investidores privados, nacionais e internacionais, os bons auspícios que eles já alimentam a respeito dos rumos da nossa economia.
Assim o País tiraria muito maior proveito da fase propícia que atravessa. É evidente que, pela primeira vez na sua história moderna, o Brasil está sendo olhado pela comunidade dos que decidem os negócios mundiais como player promissor, e não apenas como coadjuvante.
Portanto, a pergunta é se nestes seis meses a nossa presidente já se compenetrou com clareza da importância deste momento histórico, no qual foi inserida por Lula e pelos eleitores, e se se dispõe a atuar na exata medida dessas demandas; ou se ainda não percebeu que todo o seu sonhado projeto de eliminação da miséria no País muito depende, exatamente, da sua afirmação como protagonista de um processo benigno, do seu papel de para-raio da boa vontade internacional e nacional - muito mais do que das pessoas que estejam gerenciando os programas por ela incentivados.
O gerenciamento é tarefa de pessoas competentes apenas. Já a credibilidade depende de quem tenha carisma e liderança.
Lula assumiu jogando na retranca. Seu passado o condenava aos olhos do mundo capitalista. O risco Brasil, em setembro de 2002, pouco antes da eleição que o consagraria, estava na casa dos 2.487 pontos básicos (acima do risco norte-americano), em boa parte por causa da jactância (dele e do seu partido) de "mudar tudo isso que está aí".
Lula tinha de mudar a cara que exibira até então.
E mudou.
Entrou em cena una nuova persona como se diria na Commedia Dell"Arte, onde nasceu o teatro moderno e onde os personagens usavam máscaras (donde a palavra per-sonare, soar através de, que deu em "personagem").
Mas não vem ao caso, o que vem ao caso é que, usando a máscara de "Lulinha paz e amor...", ele per-sonou com facilidade, dada sua natureza camaleônica.
Dilma não teve nem tem de jogar na retranca. O risco Brasil está em torno de 160, menor que o dos EUA, como cantou o ministro Mantega. Ricos homens querem colocar tanto dinheiro aqui que o Banco Central teve de dar meia trava com o IOF, e nem assim consegue desanimá-los.
Portanto, Dilma não tem de mudar de cara. Apenas tem de ser a animadora e estimuladora de um processo em marcha - a líder da fanfarra. Tem de conquistar confiança. Mesmo que isso melindre companheiros.
O episódio Palocci mostrou indefinição e titubeio: 14/15 dias para demitir um tolo gaguejante que não conseguia explicar como ganhou tanto dinheiro em tão pouco tempo? Injustificável!
Pior é que já exibira essa tibieza de comando: por que não exigir, logo de início, desse fazedor de média que é o seu ministro da Fazenda medidas duras que revertessem as expectativas de inflação?
Por que deixar que o mercado começasse a apostar nela, agravando o problema?
Por que não se livrar desse outro trapalhão, da Educação, que já mostrou que entende tanto disso quando de fritar bolinhos?
A cara que Dilma precisa ter é a seguinte: a responsabilidade é minha, o governo é meu e vai ter de funcionar do jeito que eu mandar. Poderá até errar, mas ganhará o respeito que ainda não ganhou.
20/06/2011
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