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sábado, 14 de maio de 2011

Higienópolis – Preconceito contra os ricos, que derivou para a pregação anti-semita, assume, finalmente, a sua face petralha


Por Reinaldo Azevedo

Falharam os esforços da Folha, do Estadão e da CBN.

Não mais do que 50 ou 60 pessoas — e estou sendo generoso — se reuniram em frente ao Shopping Higienópolis para “protestar” contra a população do bairro que supostamente rejeita o metrô.

Trata-se de uma mentira, de uma invenção originalmente surgida na Folha, adotada pelos demais veículos, e que ganhou corpo etéreo da Internet.

No auge do protesto, não havia mais do que 150 pessoas por ali, a maioria, era visível, formada por curiosos e por freqüentadores do shopping que foram ver o que estava acontecendo.

É sempre assim: se aparece a mulher barbada, o homem da perna de pau ou o chimpanzé que dá cambalhotas, as pessoas param para ver.

Eu estava no meio da turma, disfarçado de cachorro, para não ser identificado.


O grupo se deslocou depois para a Avenida Angélica, que teve duas quadras interditadas. Ali se instalaram algumas churrasqueiras. Quando deixei o local, aí, sim, havia algumas centenas no que era, então, um happening: os passantes iam chegando e parando. Nada tinham a ver com o protesto.

Posso estar enganado, mas seria capaz de jurar que vi a minha musa por ali.

Seria Laura Capriglione?

Acho que sim.

Espero que sim!

Estou com síndrome de abstinência.

Há tempos não leio um daqueles seus textos em que o incauto, coitado!, estimulado pela interlocutora, expõe os seus demônios e é tomado como símbolo de uma coletividade.

Trata-se de um estilo de jornalismo.

Eu o chamaria de “Boa noite, Capriglione”.

Quando o entrevistado acorda, já era…

Prevejo para a amanhã o testemunho de judeus moradores do bairro favoráveis ao protesto e ao metrô.

É preciso retirar a mácula escandalosamente anti-semita que assumiu a manifestação na Internet.

Em sua coluna de hoje na Folha, Fernando Barros especulava sobre o evento: “Até o momento em que escrevo, estavam ‘confirmadas’ 55.103 pessoas para o ato público convocado pelo Facebook, hoje à tarde, contra aqueles que se opõem à estação do metrô em Higienópolis.

Mais de 50 mil pessoas!

Mas quantos desses facebookers irão mesmo ao ato? - 50%? 10%? 1%?

Nem isso?

Para quantos o próprio ‘ato’ se resume ao impulso de apertar o botão sentado na cadeira e dizer ‘confirmo’?

Podemos, no entanto, inverter o raciocínio: quantos estariam simplesmente alheios a qualquer engajamento ou debate público se não fosse essa ferramenta tão à mão?

Estamos diante de algo novo: um espaço de comunhão e cacofonia, nem público nem privado, em que exibição confessional e política se misturam como leite no café.”

Em texto opinativo, sempre é mais fácil fazer perguntas do que arriscar respostas. A chance de errar é menor. Compareceu ao “protesto” um décimo da estimativa mais pessimista de Barros: 0,1%.

A Praça Vilaboim, onde estava marcada a concentração, não é a Praça Tahir.

Que coisa espantosa, não?

O policiamento foi reforçado; a CET se mobilizou para organizar o trânsito. Afinal, prometia-se botar nas ruas um Pacaembu inteiro…

O movimento deve ter atingido 1% dos signatários do Facebook — umas 500 pessoas — só quando o estado franqueou o espaço público aos manifestantes.

E quem era aquela gente que estava em frente ao shopping? Pela pegada, dá para conhecer o gigante. Eram os “descoletes” endinheirados de sempre, muitos deles com a camiseta do “Movimento Passe Livre”, que reúne “burguesotes extremistas” de colégios particulares, cujo propósito, segundo seu site, é criar o socialismo no Brasil; a expropriação dos ônibus seria só a primeira etapa do fim da propriedade privada.

Tanto quanto a Folha “inventou” o “Caso Higienópolis”, o “Passe Livre” é uma invenção da CBN, a rádio das Organizações Globo — notórias pela defesa, como se sabe, da socialização dos meios de produção, exceção feita, naturalmente, à radiodifusão…

Outros tantos tinham aquele “shape” de consumidores recreativos — como diria o deputado Paulo Teixeira, do PT — de substâncias ilícitas.

À turma se misturavam os festivos de sempre. Frango assado, refrigerante sabor laranja, cerveja, uma gororoba que lembrava farofa…

Botaram fogo numa traquitana que parecia ser uma catraca de ônibus, tudo na maior alegria…

Nem parecia que tinham sido convocados nas mesmas páginas que lamentavam, dois dias antes, o fato de os nazistas não terem feito seu serviço direito, permitindo a sobrevivência dos judeus…

Uma dona lá, falando em nome do povo, ostentava um cartaz que anunciava: “Só ando de Metrô em Nova York, Londres e Paris.” Um movimento, como se vê, de raiz inequivocamente popular.

Só na Angélica os “descoletes” se encontraram, de fato, com o povo, que ia parando para ver o que estava acontecendo. A interdição da rua e o churrasco ajudaram. Era engraçado o contraste entre a timidez desconfiada das pessoas que realmente andam de ônibus e metrô e a saliência dos militantes para quem o povo se expressa mesmo é por meio do churrasco na laje e da farofa.

Na Angélica, notei que ia se avolumando também a presença de uma “turma” cuja linguagem é bem conhecida: ouviam-se ataques a Gilberto Kassab, Alckmin, os tucanos. Num outro grupo, Marta Suplicy (PT) já era dada como eleita. O cheiro era inequívoco: os petralhas estavam ali.

Para mim, já estava de bom tamanho. O preconceito contra os ricos, que derivou para a pregação anti-semita, havia assumido, finalmente, a sua face petralha. A campanha eleitoral para a Prefeitura começou. Aquele era só primeiro evento.

Fui pra casa tomar banho.

Amanhã, no Rio (depois falo a respeito), lerei o “Boa noite, Capriglione!”

14/05/2011

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