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domingo, 8 de maio de 2011

Da campanha pela Casa Branca à morte de Bin Laden, geração Obama vai da esperança à decepção




Fernando Eichenberg
Correspondente
 O Globo

WASHINGTON - Apesar do recente aumento da popularidade do presidente embalado pela morte de Osama bin Laden, a Obamania que se alastrou pelos Estados Unidos - e boa parte do mundo - em 2008, perdeu muito de seu fôlego. Alçado à Casa Branca sob inflamados ecos de hope (esperança), change (mudança) e "yes, we can" (sim, nós podemos), Barack Obama frustrou uma parcela dos 69,4 milhões de americanos que o elegeram. Em 28 meses no comando da nação, o candidato super-homem desceu dos céus para aterrissar no arenoso terreno da realpolitik e se tornar um presidente de carne e osso. Ao assumir o posto, Obama havia se comprometido com uma nova forma de fazer política, uma ruptura com a doutrina de guerra contra o terror do governo George W. Bush, com o fechamento da prisão de Guantánamo e com o fim dos custosos conflitos - em vidas e recursos - no Iraque e no Afeganistão.

Hoje, o polêmico centro de detenção para suspeitos de terrorismo na base americana em Cuba continua em atividade, e a luta contra terroristas da al-Qaeda, no Iraque, e o grupo fundamentalista islâmico Talibã, no Afeganistão, não tem prazo definido para acabar, sem falar no envolvimento em um nova guerra, na Líbia.

Por outro lado, no domingo passado o presidente cumpriu com a promessa de Bush após os atentados de 11 de setembro de 2001: capturar Osama bin Laden vivo ou morto. No entanto, a controversa morte do líder da al-Qaeda - em uma missão secreta de forças americanas num país estrangeiro e com a vítima desarmada - despertou desconfianças sobre os princípios, a legalidade e as reais intenções da operação.

Dos vibrantes comícios e promessas de campanha, o incensado candidato Obama passou a ser, na Casa Branca, um presidente questionado por seu próprio campo. E, embora seu índice de aprovação tenha subido de 46% para 57%, segundo a pesquisa CBS News/"New York Times" divulgada na sexta-feira, a base que o elegeu se diz decepcionada.

Prazo para retirada do Afeganistão pode mudar

Cheryl Johnson testemunhou o início do aprendizado de liderança política de Obama, há 25 anos, na direção da associação Projeto para o Desenvolvimento das Comunidades, no conjunto habitacional Altgeld Gardens, 30 quilômetros ao sul de Chicago, em Illinois. Sua mãe, Hazel, que trabalhou com Obama, criou uma ONG comunitária no local, hoje sob seu comando.

- Eu preferia ver Bin Laden em pé num tribunal, julgado pelas três mil pessoas que matou no 11 de Setembro. Matá-lo não resolve o problema. Não se sabe o que há por trás dessa história. Podemos ser tão culpados quanto ele se abusamos da autoridade e ameaçamos a vida de outras pessoas - diz Cheryl.

A militante comunitária aderiu à onda de otimismo lançada no país pela histórica vitória do primeiro presidente negro americano. Mas seu entusiasmo durou pouco. Ela gostaria de ver Obama menos envolvido em guerras além-mar e mais concentrado nos problemas domésticos:

- Aqui há pessoas negras e pobres, em moradias públicas. Elas votaram em Obama porque pensavam que veriam uma mudança real. Mas vejo as corporações ganhando dinheiro em Wall Street e, todos os dias, famílias sendo expulsas de suas casas. Vejo desesperança, e não mudança.

Amy Margolies, 29 anos, formada em relações internacionais e integrante de uma organização de políticas públicas, vai renovar seu voto em Obama, mas não com o mesmo espírito.

- Meu pai trabalhou na campanha passada distribuindo panfletos. Eu chorei quando Obama ganhou, foi algo muito emocionante. Mas, agora, não há tanta esperança e energia na base política. As pessoas estão cansadas, e querem ver algo bom fora a morte de um terrorista.

Amy elogia a aprovação da reforma da saúde, mas se diz "decepcionada" com o atraso na implementação de uma nova lei de imigração e com a política militar do governo.

- Ele não se apresentou como um presidente tão bélico. Achamos que seria diferente. Muita gente que antes o apoiava agora tem receio sobre o que será feito dessas guerras. Seria o momento ideal de dizer: "Pegamos Bin Laden, agora vamos pensar em como sair o mais rápido do Afeganistão." Mas parece que nada vai mudar.

Em abril de 2009, Obama anunciou o envio de mais 30 mil soldados para o Afeganistão. O processo de retirada das tropas está agendado para começar em julho, mas o recrudescimento dos conflitos poderá alterar o calendário.


07/05/2011

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