O senador Delcídio do Amaral cumpria uma jornada dupla quando era líder
do governo. Em público, presidia a poderosa Comissão de Assuntos
Econômicos do Senado e negociava a aprovação das medidas de ajuste
fiscal consideradas prioritárias pela presidente Dilma. Nos bastidores,
era peça-chave na estratégia destinada a impedir que a Operação
Lava-Jato descobrisse a cadeia de comando do petrolão.
Longe dos
holofotes, Delcídio atuava como bombeiro. Conversava com empreiteiros,
funcionários da Petrobras e políticos acusados de participar do esquema
de corrupção, anotava suas demandas e informações de bastidor e, depois,
relatava-as em detalhes a Dilma e a Lula. Sua missão era antever
dificuldades e propor soluções.
Foi ele quem alertou a presidente de que
a Odebrecht tinha pagado no exterior ao marqueteiro João Santana por
serviços prestados a campanhas presidenciais do PT. Foi ele quem falou
para Lula que petistas estrelados estavam reclamando de abandono e falta
de solidariedade. Aos dois chefes, Delcídio fazia o mesmo diagnóstico:
"Enterramos nossos cadáveres em cova rasa. É um erro. Precisamos
enterrá-los com dignidade".
Dignidade, no caso, significava ajudar companheiros e executivos presos
ou sob investigação com dinheiro, assistência jurídica e lobby a favor
deles nos tribunais superiores, para evitar que contassem às autoridades
segredos da engrenagem criminosa que desviou, segundo a Polícia
Federal, quase 50 bilhões de reais da Petrobras.
Delcídio repetiu essa
cantilena de forma exaustiva até ser preso e - como gosta de dizer -
traído.
Lula o chamou de imbecil por ter sido gravado ao tentar comprar o
silêncio de Nestor Cerveró, um dos delatores do petrolão. O PT também o
rifou em público. Com medo de expiar seus pecados em cova rasa, o
bombeiro, agora no papel de incendiário, mostrou-se disposto a contar às
autoridades tudo o que viu, ouviu e fez a mando de Lula e Dilma durante
treze anos de intimidade com o poder.
Não era um blefe.
O acordo de
delação premiada no qual Delcídio afirma que Lula e Dilma sabiam da
existência do esquema de corrupção e atuaram a fim de mantê-lo em
funcionamento foi homologado pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo
Tribunal Federal (STF).
A colaboração, apelidada de "A delação", só foi
formalizada porque o senador resistiu a uma proposta generosa de
"enterro com dignidade" apresentada pelo petista Aloizio Mercadante.
Ex-chefe da Casa Civil do governo Dilma, atual titular da pasta da
Educação e um dos ministros mais próximos da presidente, Mercadante
prometeu dinheiro e ajuda para que Delcídio deixasse a prisão e
escapasse do processo de cassação de mandato no Senado.
Em
contrapartida, pede que Delcídio não "desestabilize tudo" com sua
delação. O ministro não tratou diretamente com o senador, que já estava
sob a custódia da polícia, mas com um assessor da estrita confiança do
senador, José Eduardo Marzagão.
Os dois se reuniram duas vezes no
gabinete de Mercadante no ministério. As conversas foram gravadas por
Marzagão e entregues à Procuradoria-Geral da República por Delcídio,
que, em depoimento formal, disse que o ministro agira a mando de Dilma.
Com essa observação, acusou o ministro e a presidente de tentar comprar o
silêncio de uma testemunha, obstruindo o trabalho da Justiça.
Era o
acerto de contas de Delcídio com os senhores que lhes viraram as costas.
"Me senti pressionado pelo governo", disse ele aos procuradores.
Delcídio: preso e, como gosta de dizer, traído (Pedro Ladeira/Folhapress)
Nos diálogos, aos quais VEJA teve acesso, Mercadante oferece ajuda
financeira à família de Delcídio e promete usar a influência política do
governo junto ao Senado e ao Supremo Tribunal Federal para tentar
evitar a cassação do senador e conseguir sua libertação.
Além de dizer a
Marzagão que Delcidio deveria ficar "calmo", deixar "baixar a poeira" e
não fazer "nenhum movimento precipitado", Mercadante prometeu procurar o
presidente do Senado, Renan Calheiros, para armar um plano de modo a
fazer com que o Senado voltasse atrás na decisão, tomada em plenário,
ratificando a ordem de prisão expedida pelo Supremo.
"Por que é que não
pede reconsideração ao Senado? Pode?", questiona o ministro. "Acho que
não", diz o assessor. "Em política, tudo pode", ensina Mercadante.
Descrevendo seu plano, Mercadante deixa claro ao assessor que vai
tentar "construir com o Supremo uma saída" para Delcídio.
Diz que
Ricardo Lewandowski, o presidente do STF, poderia libertar Delcídio por
meio de liminar, durante o recesso de fim de ano do Judiciário. "O
presidente vai ficar no exercício... Também precisa conversar com o
Lewandowski. Eu posso falar com ele pra ver se a gente encontra uma
saída", oferece Mercadante. Sem citar o nome, o ministro dá a entender
que irá procurar outro ministro do STF e que sua ideia é fazer com que o
Senado procure Teori Zavascki para pleitear a soltura do senador.
"Talvez o Senado possa fazer uma moção, a mesa do Senado, ao Teori,
entendeu? Um pedido: olha, nós demos autorização considerando o
flagrante, considerando as condições etc, mas não há necessidade pá, pá,
pá - pá, pá, pá. E tentar construir com o Supremo uma saída", diz.
A
menção ao STF foi ligeira mas estratégica. Naquela altura, a prioridade
da família de Delcídio era libertá-lo antes do Natal. Havia, entretanto,
a suspeita de que Teori negaria, como de fato ocorreu, o pedido de
habeas-corpus. A oferta de Mercadante remediaria o problema.
Sobre a possibilidade de uma delação de Delcídio, Mercadante diz: "Eu
acho que ele devia esperar, não fazer nenhum movimento precipitado,
deixar baixar a poeira, ele vai sair, a confusão é muito grande."
A
primeira conversa entre Mercadante e o assessor de Delcídio ocorreu no
dia 1º de dezembro, uma semana após a prisão do ex-líder do governo. A
segunda conversa deu-se no dia 9 de dezembro, um dia após a família de
Delcídio decidir contratar o escritório do advogado Antonio Augusto
Figueiredo Basto, um dos principais especialistas em delação premiada no
país.
No primeiro encontro com assessor, Mercadante se mostra
cauteloso. Diz que Delcídio é "fundamental para o governo", fala em
lealdade, promete ajuda e deixa entender que fala em nome da presidente
Dilma: "Eu sou um cara leal. A Dilma sabe que se não tiver uma pessoa
para descer aquela rampa, eu vou com ela até o final."
Fica claro que Mercadante está preocupado em acalmar a mulher e as
filhas de Delcídio, principais incentivadoras de um acordo de delação.
Diz ao assessor do senador: "Eu tô te chamando aqui para dizer o
seguinte: eu serei solidário ao Delcídio. Eu gosto do Delcidio, eu acho
ele um cara muito competente, muito habilidoso, foi fundamental para o
governo (...) Eu vi o que estão fazendo com as filhas dele. Uma
canalhice monumental. Imagino o desespero dele. Então você veja o que
ele precisa que eu posso ajudar."
O ministro aconselha o assessor a
dizer para Delcidio seguir em silêncio para "não ser um agente que
desestabilize tudo". Chega a fazer uma ameaça velada, caso o petista
revele os podres do governo: "Vai sobrar uma responsabilidade pra ele
monumental, entendeu?".
No segundo encontro, ainda sob o impacto da notícia da contratação do
especialista em delações, Mercadante é mais explícito. Revela seu plano
no Judiciário, reclama que por causa dos rumores de acordo com a
Lava-Jato nem Renan Calheiros, investigado no STF, nem o governo poderão
se mexer para salvar Delcídio. Chega a pedir para que o petista abafe o
assunto delação. Diz Mercadante: "Como é que o Renan vai se mexer... Eu
sei que ele tá acuado porque o outro vai... Entendeu? Como é que o
governo se mexe, porque parece que tem alguma coisa que ele (Delcídio)
sabe do rabo de alguém. Então, eu acho que tem que tirar isso (delação)
da pauta nesse momento."
O assessor de Delcídio relata as dificuldades financeiras do senador,
afirma que a família está planejando vender imóveis e se desfazer de
bens para custear o processo. Mercadante se dispõe a viajar ao Mato
Grosso do Sul para dar assistência à família: "Isso aí também a gente
pode ver no que é que a gente pode ajudar, na coisa de advogado, essa
coisa. Não sei. Pô, Marzagão, você tem que dizer no que é que eu posso
ajudar. Eu só tô aqui pra ajudar. Veja o que que eu posso ajudar".
O
ministro explica que, se a mulher de Delcídio aceitasse conversar, ele
organizaria uma visita, como ministro da Educação, em alguma
universidade do estado para ocultar o real objetivo da viagem.
Marzagão trabalha com o senador há treze anos. Nos 87 dias em que o
petista ficou preso, Marzagão só não fez companhia a ele uma única vez,
quando foi ao casamento da filha em Fortaleza. Era Marzagão quem levava e
trazia informações, providenciava alimentação e livros, ouvia histórias
e compartilhava de desabafos e crises de choro.
Antes de procurar o
assessor, Mercadante tentou contato com a esposa do senador. O ministro
foi repelido com contundência. Maika, a esposa de Delcídio, não escondia
a raiva pelo fato de o marido ter se prestado, segundo ela, a fazer
serviços sujos para Lula e Dilma, como a tentativa de comprar
testemunhas do petrolão, motivo que o levou à prisão.
Além disso, Maika
sabia que o ministro sempre fora um desafeto de Delcídio no partido. Os
dois, senador e ministro, nunca foram amigos, nem mantinham relações
amistosas. Por isso, Maika viu a tentativa de aproximação de Mercadante
com estranhamento.
Ao ser chamado para uma conversa com um desafeto de Delcídio, Marzagão
resolveu gravar tudo, como medida de precaução. Temia ser alvo de uma
armadilha tramada pelo governo a fim de desmoralizar o senador, que,
como antecipara VEJA, ameaçava contar seus segredos às autoridades.
O
senador e seu assessor também sabiam como o Ministério Público
valorizava gravações com tentativas de obstruir a Justiça. Afinal, uma
gravação e uma proposta de auxílio financeiro levaram Delcídio à cadeia,
acusado de tentar sabotar o trabalho da Justiça. Como Mercadante,
Delcídio também queria calar uma testemunha.
A proposta de silêncio
"Eu acho que ele devia esperar"
Ex-chefe da Casa Civil e um dos ministros mais próximos da presidente
Dilma, Aloizio Mercadante conversou duas vezes com José Eduardo
Marzagão, assessor do senador Delcídio do Amaral. O objetivo do
ministro, segundo o parlamentar, era comprar o seu silêncio. A segunda
reunião entre eles ocorreu um dia depois de o senador contratar um
advogado especializado em delação premiada. Nela, Mercadante reforça o
pedido para que não haja colaboração com o Ministério Público e deixa
claro que a delação, se confirmada, desestabilizaria o governo.
AM - O que é que tem que você acha que eu possa ajudar?
JEM - Ministro...
AM - De verdade. Tô falando assim. Eu tô aqui. Ó, eu falei: Eu não quero nem saber o que o Delcídio fez.
JEM - É.
AM - Eu quero... (inaudível) eu acho que ele devia
esperar, não fazer nenhum movimento precipitado, ele já fez um
movimento errado, deixar baixar a poeira, ele vai sair, a confusão é
muito grande. Aí... entendeu?
JEM - Ministro, o problema é o seguinte.
AM - Pra ele não ser um agente que desestabilize tudo. Porque senão vai sobrar uma responsabilidade pra ele monumental, entendeu?
Ajuda financeira
"Veja o que eu posso ajudar"
Ciente de que a família de Delcídio pressionava o senador a fechar um
acordo de delação premiada, Mercadante diz a Marzagão estar disposto a
forjar uma agenda oficial, como ministro da Educação, para visitar a
esposa e as duas filhas do petista. Informado de que elas enfrentavam
dificuldades financeiras, não hesita em prometer uma providencial ajuda
em dinheiro, para pagar os custos com os advogados, ressalta
AM - É o seguinte, eu me disponho, já te falei
isso reservadamente, eu faço uma agenda no Mato Grosso do Sul, eu tenho
que ir visitar uma universidade, um instituto... eu falo Maika, eu quero
passar aí ...da outra vez ela fez um jantar pra mim... quando eu fui lá
fazer uma agenda e ela fez um jantar na casa. Então, ó eu gostaria de
passar aí, lhe dar um abraço e tal, se tiver espaço.
JEM - Só pra você ter uma ideia, eles estão vendendo a casa.
AM - Pra não ficar expostos.
JEM - Não, até pra...
AM - Arrecadar dinheiro.
JEM - Arrecadar dinheiro. Os carros, a casa. A
fazenda, porque é da mãe e do irmão, então lá não vai mexer. Aliás, o
irmão tá vindo aí pra tratar desses assuntos. Assuntos financeiros
mesmo.
AM - Patrimônio da família.
JEM - Patrimônio, as dívidas que ele tem. Pra você
ter uma ideia da situação dele, o salário dele tem consignado. O
salário do Delcídio tem empréstimo consignado, que ele está pagando.
AM - Bom, isso aí também a gente pode ver no que é
que a gente pode ajudar, na coisa de advogado, essa coisa. Não sei. Pô,
Marzagão, você tem que dizer no que é que eu possa ajudar. Eu só to
aqui pra ajudar. Veja o que que eu posso ajudar.
Ajuda política
"Vou conversar com o Renan"
Mercadante sabia que Delcídio se sentira traído pelo PT, que o
censurara publicamente e, ao lavar as mãos, incentivara o plenário do
Senado a referendar a sua prisão. Para adular o ex-líder do governo, o
ministro esbanja solidariedade na conversa com Marzagão. Ele critica o
próprio partido e avisa que negociará com o presidente do Senado, Renan
Calheiros, uma moção, a ser apresentada à Justiça, destinada a garantir o
relaxamento da prisão
AM - Eu conversei com vários senadores
JEM - Hã.
AM - Eu falei: vocês se acocoraram!
JEM - Foi.
AM - Ah, pô! Nós tínhamos feito um movimento com o Sarney, o Jader e o...
JEM - Renan
AM - ...o Renan e tal... Aí veio a nota do PT. Que
nota do PT? Onde que o Rui Falcão agora dirige o plenário do Senado?
... é história... essa instituição tem quase 200 anos de história! Como é
que vocês aceitam uma coisa como essa, gente! Porque isso vai ser um
precedente.
JEM - Abriu uma porteira.
AM - Vai abrir a porteira. Então, vocês precisam
repensar o encaminhamento. Talvez o Senado fazer uma moção, a mesa do
Senado, ao Teori, entendeu? Um pedido: olha, nós demos autorização
considerando o flagrante, considerando as condições etc, mas não há
necessidade pá, pá, pá - pá, pá, pá. E tentar construir com o Supremo
uma saída. Não pode aceitar isso. Eu acho que se a gente não for pelo
jurídico, pelo político, pelo bom senso e deixar tudo pra ele que tá
acuado, fodido, a família desestruturada, vai sair só bateção de cabeça.
Porque eu posso tentar ajudar nisso aí no Senado. Vou tentar conversar
com o Renan e ponderar a ele de construir uma, entendeu, uma moção...
Ajuda jurídica
"Pedido de relaxamento de prisão"
A proposta de compra do silêncio de Delcídio era ampla e irrestrita.
Além de dinheiro e lobby em defesa do petista no Senado, Mercadante
promete conversar com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
Ricardo Lewandowski, a fim de convencê-lo a acolher o pedido de
relaxamento de prisão durante o recesso do Judiciário. A ação, se
realizada, não surtiu o efeito esperado. Delcídio só foi solto em
fevereiro, depois de negociar a colaboração com as autoridades.
AM - Eu vou tentar um parecer jurídico que tente
encontrar uma brecha pra que o Senado se pronuncie junto ao Supremo com o
pedido de relaxamento da prisão, porque ela não se justifica mais. Acho
que esse é o caminho que eu vejo. Vou estudar e te dou o retorno de
hoje pra amanhã.
JEM - Isso, porque o problema é que o dia D é terça-feira.
AM - Tá.
JEM - Porque se passar terça-feira e não sair, só no ano que vem.
AM - Não, não, mas o presidente vai ficar no
exercício... também precisa conversar com o Lewandowsky. Eu posso falar
com ele pra ver se a gente encontra uma saída. Mas eu vou falar com o
ministro no Supremo também.
JEM - Complicado.
AM - Mas é o seguinte, eu não tenho nada a ver...o
Delcídio... zero... não tô nem aí se vai delatar, não vai delatar, não
tô nem aí... a minha, a minha questão com ele é que eu acho um absurdo o
que aconteceu com ele. Primeiro pelo quadro que ele é, segundo pela
cagada que não era necessária aquela exposição que ele teve, terceiro
pela atitude das instituições e do partido (inaudível)... lava a mão,
vira as costas, um cara totalmente... uma coisa covarde pra caralho, um
absurdo. Na minha interpretação, de uma vingança até da... ele pode ter
se excedido na CPI dos Correios, mas é evidente que ele segurou bronca
pra caralho.
JEM - Vai saber.
AM - É, lógico que ele sabe. Não sei exatamente os
detalhes, mas eu sei que ele fez o que era possível, prudente, coisas
que não estavam comprovadas, que não eram sérias, mas, é isso aí...
(inaudível)... a função era muito difícil a cobrança em cima dele...
Estratégia de defesa
"O Renan está acuado"
Na segunda e mais incisiva conversa com Marzagão, Mercadante alega que
seria necessário acabar de vez com os rumores sobre a possibilidade de
Delcídio fechar uma delação. Se o assunto não saísse de pauta,
argumentou o ministro, seria difícil envolver o presidente do Senado,
acusado de receber dinheiro sujo do petrolão, e o governo nos esforços
empreendidos para salvar o mandato do petista e livrá-lo da prisão
AM - A estratégia de defesa é nesse sentido,
entendeu? Ele foi: meu mandato, eu quero defender meu mandato, eu quero
ter liberdade pra poder defendê-lo, não posso constranger o meu direito
de defesa no Senado e pá pá pá, prerrogativas, estão aqui as minhas
condições e pelo direito que é líquido e certo, a ilegalidade do ato - é
um absurdo o que foi feito...
JEM - Mas ele não pode falar isso
AM - Não, mas tem que construir. Tem que ter gente pra fazer e falar.
JEM - É.
AM - O que que é a dificuldade? O que é que eu quero te alertar. O Renan é um cara que tem uma zona cinzenta nessa história.
JEM - É.
AM - Como é que o Renan vai se mexer....eu sei que ele tá acuado porque o outro vai... entendeu?
JEM - É.
AM - Como é que o governo se mexe, porque parece
que tem alguma coisa que ele sabe do rabo de alguém. Então, eu acho que
tem que tirar isso da pauta nesse momento, pra defesa dele, tô
falando... pra tentar construir - não sei se é possível a defesa...
JEM - Honestamente eu não sei...
AM - Eu não sei, o que eu vou... o que eu me
disponho...como eu te falei. Olha, eu não quero me envolver mais do que
posso. Faço isso por absoluta solidariedade. Acho que o que o PT fez é
indigno e acho que o Senado não devia ter recuado.
JEM - É. Mas nem só por causa dele.
AM - Não... é institucional, gente.
Evitar a delação
"Parece que ele está fazendo porque tá com medo"
Neste trecho, Mercadante detalha como seria a operação de bastidor em
favor de Delcídio e, para dar credibilidade ao discurso, dá nome a um
dos participantes da empreitada. O ministro diz que advogados de
confiança, como o ministro do TCU Bruno Dantas, ex-advogado-geral do
Senado, ajudariam a elaborar uma tese jurídica que permitisse à Casa
defender o senador no Supremo Tribunal Federal.
AM - O cara, pô, fodido, acuado, arrebentado,
sangrando... eu vou fazer o seguinte: eu vou conversar com alguns
advogados que eu confio. Acho que vou chamar o Bruno Dantas pra
conversar, que foi advogado-geral da União muito tempo... do Senado, ou
algum consultor do Senado que pense juridicamente se o Senado tem alguma
providência pra interferir. Inclusive alegar o seguinte: nós queremos
que ele se defenda, de um processo aqui pi, pi, pi...
JEM - Sim. Normal.
AM - E crie qualquer porra de um argumento contanto que ele não fique lá preso, acuado desse jeito.
JEM - Que fique em casa com tornozeleira, que fique num quartel do Exército, o caralho que seja, mas lá é...
AM - É ruim. Quando ele fala do risco da delação,
hoje o advogado desmentiu. Fica um negócio assim: Parece que ele tá
fazendo porque tá com medo, entendeu? Porque não tinha essa pauta...
JEM - O problema é o seguinte: é que ele tá
desestruturado. Então, alguém tá colocando pra ele que essa é a única
maneira de ele sair de lá.
AM - Bom, eles fazem isso com todo mundo.
Desestruturam o cara. Botaram... caralho... O que fizeram com o filho do
Paulo Roberto foi isso, com as filhas...
JEM - Sim. Agora, vê a situação dele: um senador com um mandato vigente
AM - Preso.
JEM - Preso, continua sendo senador e... um zé-ninguém lá.
AM - Sim... mas tem um lado e tem que pensar o
seguinte... eu acho que precisa esfriar o assunto dele. Vão vir outros.
Vai vir Andrade Gutierrez, não sei quem, não sei quem, o Zelada, o
caralho, vai vir merda pra caralho toda hora. Aí vai diminuindo. Precisa
esfriar o caso dele. Segundo: ele tando lá, não tem inquérito no
Senado. Não tem como cassar um senador preso.
Solidariedade do governo
"Veja o que eu posso ajudar"
Já na primeira conversa com Marzagão,
Mercadante oferece "apoio pessoal
e político" em troca do silêncio do senador Delcídio do Amaral. De
início, o ministro até registra se tratar de uma iniciativa de cunho
pessoal. Depois, se trai, ressalta sua relação de lealdade com a
presidente Dilma e registra, em alto e bom som, que a ajuda se dará
"dentro do governo".
AM - Eu não conheço a Maika. Mas se você achar,
porque eu vou dizer o seguinte. Eu sou um cara leal. A Dilma sabe que se
não tiver uma pessoa para descer aquela rampa, eu vou com ela até o
final. Eu gosto do Delcidio, eu acho ele um cara muito competente, muito
habilidoso, foi fundamental para o governo, um monte de virtudes, muito
mais jeitoso, ia atrás, se empenhava, fazia... você não pode pegar uma
biografia como essa, uma história como essa, porque o cara tropeçou numa
pedra, numa situação de desespero, tentando encontrar uma saída, você
vê aquele jeito que ele vai tentando mostrar um serviço, eu não consigo
entender porque ele foi aonde ele foi. Mas foi, não adianta. Então vamos
ter que deglutir isso aí. O que eu acho que ele está precisando agora é
algum tipo de apoio e solidariedade pessoal e político. Então, você
veja o que eu posso ajudar. 'Se você achar, Mercadante, era bom você ir
no Mato Grosso do Sul falar com as filhas dele.' Eu não vou me meter na
defesa dele. Não sou advogado, não tenho o que fazer, não sei do que se
trata, não conheço o que foi feito.
JEM - Mas o que o Rui fez, queimou qualquer possibilidade.
AM - Foi um absurdo. Eu dentro, vou tentar ajudar
no que eu posso. Dentro do governo, dentro do partido menos, porque eu
não tenho muitas relações hoje. Mas vou tentar porque achei um absurdo.
Eu quero ajudar no que eu puder. Só vou fazer o que eu puder. Não
adianta me pedir para fazer o que eu não posso fazer porque eu não vou
fazer. Agora, o que eu puder fazer, eu farei. Então eu quero que você
saiba disso. Conversamos nós dois. Você veja lá o que você acha que
ajuda e me passa que eu vejo a providência que a gente pode tomar. Eu
imagino que ele está completamente sozinho, fica ruim para a segurança
dele.
JEM - O senhor é a terceira pessoa. No dia do
acontecido, ligou o Renan e o Sarney para a Maika. Mais nada. E disseram
barbaridades, chamaram a presidente de filha da puta.
15 de março de 2016
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