Augusto Mendonça disse que os pagamentos de propina também eram feitos em contas no exterior e em dinheiro vivo
Por Cleide Carvalho / Tiago Dantas
/Renato Onofre
O Globo
SÃO PAULO — O empresário Augusto Mendonça Neto, presidente da Setal, confirmou em depoimento à Justiça Federal do Paraná, nesta quinta-feira, o pagamento de propina ao PT através de doações oficiais. É o segundo delator da Lava-Jato a admitir ter feito o repasse de recursos ilíticos através de doações. Na semana passada, o empresário Ricardo Pessoa, da UTC, já havia admitido ter feito a operação.
De acordo com Mendonça Neto, a propina à diretoria de Serviços foi paga de três formas diferentes: no exterior, com depósitos na conta Maranelle; em doações oficiais ao PT e em dinheiro vivo, que mandavam retirar em seu escritório. Segundo ele, os depósitos foram feitos por meio do operador Mário Goes, que também assinou acordo de delação.
— Mário Goes me passou a referência de uma conta onde fizemos os pagamentos fora. Foram feitos pagamentos em recursos que mandavam retirar no meu escritório e doações oficiais ao PT, a pedido do Renato Duque — afirmou Mendonça Neto ao juiz Sérgio Moro.
O empresário afirmou que o pedido de propina ocorreu ainda na fase de apresentação de propostas para obras na Refinaria Presidente Vargas (Repar), no Paraná. Depois que sua empresa venceu a concorrência, em consórcio, ele teve de confirmar o compromisso de pagamento ao então gerente Pedro Barusco.
— Apresentamos a proposta, fomos os vencedores, antes da apresentação final ele me chamou de novo para confirmar que cumpriríamos com o combinado, pois senão o contrato poderia não passar na reunião da diretoria. Ele disse que o próprio Duque (Renato Duque, então diretor de Serviços) queria confirmar antes da aprovação na reunião de diretoria.
Além de pagar por meio do operador Mário Goes, o empresário confirmou que foram feitos pagamentos por meio das empresas de fachada SM Terraplanagem, Soterra e Legend. Foram assinados contratos de falsa prestação de serviços para viabilizar as operações. As empresas de fachada são controladas, segundo investigações da Polícia Federal, por Adir Assad.
O empresário confirmou, ainda, o pagamento de propina em obras da Refinaria de Paulínia (Replan), feitas pelo consórcio CMMS, integrado pelas empresas Mendes Júnior, MPE e SETAL (SOG) e Repar, contradadas pelo consórcio Interpar. Mendonça Neto afirmou que a diretoria de Serviços da Petrobras cobrava propina equivalente a 1% do valor dos contratos, assim como a diretoria de Abastecimento, a partir de 2007.
O delator também confirmou o cartel das empresas. Segundo ele, as quatro maiores empresas do cartel — Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e UTC — tinham mais influência do que as demais. Segundo ele, vantagens que essas empresas tiveram na negociação do contrato da refinaria de Abreu e Lima causaram problemas no grupo:
— Empresas maiores sempre tinham ascendência grande sobre o grupo, diria que um poder maior de persuasão — disse Mendonça, que continuou: — Quando se discutiu Abreu e Lima, (as maiores empresas) tiveram vantagem grande, o que acabou causando desequilíbrio para dentro do grupo.
O grupo se desestabilizou quando houve a divisão dos pacotes do Comperj:
— Comperj foi o princípio do fim. Houve a divisão dos grandes pacotes, poucos deram certo. A partir de um determinado instante, a Petrobras mudou o procedimento, de começar a chamar outras empresas que não faziam parte — disse.
10/09/2015
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