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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Lula com medo


Alvo dos protestos, o ex-presidente perde a condição de mito e tem suas contas rastreadas devido a uma movimentação atípica.

Temendo que dano à sua imagem seja irreversível, petista vai à TV reconhecer crise

Josie Jeronimo
(josie@istoe.com.br)

Até as manifestações do dia 16 de agosto, o PT acreditava que a recente antipatia do brasileiro pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era uma marolinha. O partido ainda alimentava a ilusão de que a popularidade do ex-líder sindical convertia em vilão qualquer um que desfiasse críticas a seu respeito.

Os protestos promoveram, no entanto, a descanonização do mito. As crises política e econômica enfrentadas pelo País e que afetou a população como um todo, sem distinção de classe social, tornaram Lula alvo da insatisfação popular.

O boneco inflável de 12 metros do ex-presidente vestido em trajes de presidiário confeccionado pelos manifestantes, e que virou febre nas redes sociais, ilustra bem o sentimento que hoje parte expressiva dos brasileiros nutre pelo petista.

Mesmo em sua cidade natal, Garanhuns (PE), onde Lula sempre foi ídolo, conterrâneos saíram às ruas com faixas pedindo “desculpas ao Brasil pelo filho corrupto”.

A alegoria dos protestos de Brasília fez a imprensa internacional questionar se o petista perdeu o troféu de “o cara”, numa referência à expressão cunhada em 2009 pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

 

O clamor das ruas não acordou apenas o PT para a nova realidade política do maior líder da sigla. O ex-presidente também caiu em si. O temor do petista, agora, é que sua imagem seja arranhada a ponto de inviabilizar uma candidatura em 2018.

O outro medo de Lula advém da Lava Jato. As apurações da força-tarefa de Curitiba e as investigações paralelas do Ministério Público lançam suspeitas sobre uso do peso político do ex-presidente para beneficiar empreiteiras e empresas com interesses em fechar negócios com o governo.

Chamou a atenção do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) a movimentação “atípica” de mais de R$ 50 milhões nas contas da empresa de palestras do ex-presidente.

Do total de receitas, R$ 27 milhões foram obtidos com as palestras – quase R$ 10 milhões pagos por empreiteiras investigadas pela Lava Jato. Os dados dos sigilos de Lula municiaram investigações em curso nos Ministérios Públicos do Paraná, Distrito Federal e Rio de Janeiro.

O Ministério da Justiça foi acionado para investigar o Coaf - seu próprio braço aliado no combate à corrupção - em defesa da honra de Lula. Mas o trabalho de análise e encaminhamento aos órgãos competentes dos extratos de movimentações financeiras do ex-presidente está respaldado na lei. De acordo com deliberação da lei de combate à corrupção e lavagem de dinheiro, qualquer agente público que tenha desempenhado cargo nos cinco anos anteriores fica sob monitoramento.

Na última semana, Lula ainda contabilizou dois dissabores. Apareceu em um grampo da Lava Jato conversando com um dos executivos presos sobre “assuntos do BNDES” e teve seu nome manuscrito numa agenda de um ex-assessor do ex-ministro José Dirceu, hoje preso, Roberto Marques. O título de ex-presidente da República não garante a Lula foro privilegiado nas investigações da Lava Jato.

Temendo que o líder petista seja alvo do juiz Sérgio Moro, magistrado responsável pelos processos do Petrolão, o PT ainda pressiona o ex-presidente assumir um ministério no governo Dilma Rousseff. Como ministro de Estado, Lula ganharia o privilégio de ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), onde três dos 11 ministros em atividade foram indicados por ele.

Lula, no entanto, resiste à ideia. Analisa que a repercussão negativa de sua entrada no governo pode ser pior do que passar pelo constrangimento de comparecer à Curitiba para prestar depoimento, o que poderá acontecer nas próximas semanas.

Para tentar limpar sua barra, Lula gravou na última semana inserções de TV para o programa do PT em que reconhece a gravidade da crise econômica e pede união ao País para encontrar a saída. O gesto pode ter sido tardio.


Fotos: Givaldo Barbosa /Agência O Globo; Elza Fiuza/Agência Brasil


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