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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Planalto corteja os irmãos Gomes para minar pretensão presidencial de Campos


No momento em que Ciro faz críticas públicas ao presidente do PSB, possível adversário de Dilma em 2014, Cid é recebido pela presidente em Brasília e acompanhará Lula em Fortaleza

VERA ROSA, TÂNIA MONTEIRO
e ÂNGELA LACERDA
O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA, RECIFE - Em estratégia articulada com seu padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff começa a atuar para minar as pretensões do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, de se tornar seu possível adversário em 2014. Em meio a confrontos explícitos de duas alas do PSB, Dilma recebe hoje o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), no Planalto.

O encontro ocorre quarenta e oito horas depois das declarações do ex-ministro Ciro Gomes, que é irmão de Cid e criticou Campos (PSB), dizendo não ver nele um político preparado para comandar o Brasil. Lula também vai se reunir com Cid, na quinta-feira, em Fortaleza. Quer o apoio do governador para a reeleição de Dilma.

"Eduardo Campos, Aécio e Marina não têm nenhuma proposta, nenhuma visão", afirmou o polêmico Ciro Gomes à rádio "Verdes Mares" no sábado, desqualificando também o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e a ex-ministra Marina Silva (Rede Sustentabilidade), outros potenciais adversários de Dilma.

Apesar de muito irritado, Campos preferiu não polemizar com o correligionário. "Discordo da opinião dele e essa não é a opinião do partido", reagiu o presidente do PSB ontem, depois de fazer palestra na abertura de seminário promovido pela revista Carta Capital, no Recife, com o tema "Nordeste: como enfrentar as dores do crescimento".

"Isso não é nenhuma novidade. Ele (Ciro) vem falando isso, só que desta vez falou em relação a Dilma, a Aécio, a Marina, a todos", desconversou Eduardo Campos. O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, lamentou o que definiu como "opinião desinformada" de Ciro sobre Eduardo Campos.

Indagado se o caminho de Ciro será a saída do PSB, Campos observou que o partido é democrático e as pessoas têm o direito de ter suas opiniões. "Mas o debate sobre o que o partido vai fazer ou deixar de fazer deve ser travado no momento certo, nas instâncias certas", ponderou.

Apesar de a cúpula do PSB classificar a crítica de Ciro como "voz isolada no partido", há uma ala da legenda dominada pelos irmãos Gomes. Nesse cenário, a ação de Lula e Dilma dá força política a Cid e Ciro justamente no momento em que Eduardo Campos começa a se movimentar para a sucessão de 2014.

Riscos. O jogo, porém, não é tão simples assim. Dois ministros ouvidos pelo Estado consideraram arriscada a estratégia de prestigiar os irmãos Gomes como contraponto ao governador de Pernambuco e disseram que Lula e a presidente vão agir "no fio da navalha" para não melindrar nenhum dos lados do PSB, que integra a base aliada.

Sobre uma eventual movimentação do governo federal para tirar o PSB do páreo na disputa presidencial em 2014 - com a eventual ajuda dos irmãos Ciro e Cid Gomes, governador do Ceará - Eduardo Campos reiterou o discurso de que o partido não está pensando nisso. "É hora de juntar o Brasil, discutir o que interessa com a população".

Embora à primeira vista os ataques de Ciro na direção de Campos pareçam sob medida para beneficiar Dilma, o Planalto avalia que um racha no PSB, neste momento, pode trazer prejuízos à governabilidade, ameaçando a fidelidade do partido nas votações Congresso.

Uma das estratégias do PT para garantir o segundo mandato de Dilma é reorganizar o partido no Nordeste. Lula é grato a Cid pelo fato de o governador ter prestado solidariedade a ele assim que surgiram denúncias de Marcos Valério, o operador do mensalão. Valério afirmou que Lula sabia do esquema de corrupção e teria se beneficiado dele.

Ciro, por sua vez, foi ministro da Integração Nacional do governo Lula, de 2003 a 2006. Na eleição presidencial de 2010, ele abandonou o projeto político presidencial e apoiou a eleição de Dilma. Lula, porém, não o considera tão confiável. Em outubro, Ciro disse que o ex-presidente "foi muito incorreto" com ele, ao apoiar o candidato do PT à Prefeitura de Fortaleza, contra o PSB. "Lula não é Deus", afirmou Ciro, na ocasião.

Superados os embates cotidianos da política, Lula tenta uma recomposição com os Gomes pensando na reeleição de Dilma. O PT escolheu justamente Fortaleza para ser palco do 1.º seminário de comemoração dos dez anos da sigla, numa clara demonstração de que deseja uma aproximação com Cid. PT e PSB travaram uma guerra no processo eleitoral na capital do Ceará.

Lula estará em Fortaleza na quinta-feira para o seminário e fez questão de se encontrar com o governador Cid Gomes.

O ex-presidente também vai se reunir com Campos, em março. Lula chegou a sugerir que o governador substituísse o atual vice, Michel Temer (PMDB) na chapa da reeleição, mas a ideia não prosperou. Hoje, Lula defende a dobradinha Dilma-Temer.

Campos disse que "não está em debate" a possibilidade de o PSB deixar os ministérios que ocupa (Integração Nacional e Portos). "Só estamos no ministério por muita insistência da presidente", disse Cid.


26 de fevereiro de 2013


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