Diego Werneck Arguelhes, O Globo
Na sessão desta segunda-feira do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Joaquim Barbosa seguiu uma ordem diferente do esperado. Começou a votar os réus do núcleo político, em vez do núcleo financeiro. O ministro Ricardo Lewandowski protestou: ao divergir do caminho que havia sido divulgado pela mídia, Barbosa estaria “surpreendendo a todos”.
Essa acusação procede?
A surpresa do revisor foi justificada?
O ministro Barbosa não fez nada de errado.
O regimento do Supremo diz que o relator deve “ordenar e dirigir” o processo.
Foi nesse sentido que se manifestaram, aliás, vários outros ministros.
Defenderam a prerrogativa do Barbosa de organizar a votação das penas na ordem que quiser — e do correspondente dever, dos ministros, de estar com os votos preparados, qualquer que seja essa ordem.
É o relator, e não a página de jornal, que deve dar a pauta.
Não há que se falar em surpresa quando um ministro exerce uma prerrogativa prevista no regimento — e, mais ainda, já reconhecida e afirmada por seus pares neste mesmo processo. O ministro Lewandowski sabe disso.
Na primeira sessão do julgamento do mensalão, sem aviso prévio aos colegas ou ao relator, leu um longo voto sobre a questão do desmembramento. O ministro Barbosa protestou, mas foi derrotado: o tribunal defendeu a prerrogativa do revisor.
As duas surpresas, a de agosto e a desta segunda-feira, foram minimizadas pelo plenário do Supremo.
Em agosto, porém, o papel do relator e o do revisor ainda estava em discussão. Não mais. Desde o início da votação, o presidente do STF, Ayres Britto afirmou — e o tribunal aceitou — que, nos termos do regimento, cabe ao relator escolher seu caminho. Na época, Lewandowski foi derrotado. Foi derrotado de novo.
O relator interpretou a postura de Lewandowski como “obstrucionismo” — uma pesada acusação que fez Lewandowski se irritar e sair da sessão.
A crítica de Barbosa foi imediatamente neutralizada pelo presidente Ayres Britto. Mas seria equivocado ver aqui um mero exemplo das tensões que o temperamento do futuro presidente do STF, Joaquim Barbosa, pode gerar.
Na discussão desta segunda, o intransigente foi o futuro vice-presidente Lewandowski.
Diego Werneck Arguelhes é professor da FGV Direito Rio
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Análise de especialista: ‘Surpresa e intransigência’
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