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segunda-feira, 8 de outubro de 2018

ARRASTÃO NA URNA

"A política tradicional morreu.

Teremos anos dolorosos pela frente", diz Jairo Nicolau



Por Bernardo Mello Franco
O Globo
Givaldo Barbosa
Agência O Globo


A eleição do novo Congresso sepultou a política tradicional e o sistema partidário construído a partir da Constituição de 1988. A avaliação é do cientista político Jairo Nicolau, um dos maiores estudiosos do Legislativo no país.

Ele afirma que a fragmentação recorde da Câmara, que passa a ter deputados de 30 partidos, deve impedir qualquer presidente eleito de governar com maioria. "Mudou tudo. Estamos diante de fenômenos nunca vistos", diz o professor da UFRJ.

Para Nicolau, o deputado Jair Bolsonaro capitalizou a rejeição ao PT ao discursar contra a corrupção e se vender como "um João Doria nacional". "Ele não precisou discutir nada de concreto. O eleitor comprou um símbolo", avalia.

Leia alguns trechos da entrevista ao blog:

O novo Congresso: "O sistema partidário que nós conhecíamos morreu junto com o aniversário de 30 anos da Constituição. A fragmentação da Câmara já era a maior do mundo. Agora chegamos a um ponto fora de qualquer parâmetro. Estamos diante de uma eleição nunca vista. A política tradicional morreu no Brasil".

Governo sem maioria: "É muito difícil que o próximo presidente consiga formar um governo de maioria. Isso pode comprometer a aprovação de emendas constitucionais, como a reforma da Previdência".

Guinada à direita: "Bolsonaro criou do nada um grande partido de extrema direita. Os analistas esperavam que o PSL faria uma bancada de 15 a 20 deputados. Houve um arrastão (a sigla garantiu 52 cadeiras). O hiperconservadorismo ganhou uma força que ninguém esperava. Vamos conhecer esta bancada agora. A lista dos eleitos está cheia de prenomes como cabo, capitão e coronel".

Mudanças até a posse: "Os deputados eleitos por pequenos partidos de centro-direita que não cumpriram a cláusula de desempenho poderão migrar para o PSL sem serem punidos. Isso deve fazer do PSL a maior bancada no início da legislatura, em fevereiro (ultrapassando o PT, que elegeu 56 deputados)."

Renovação alta: "A renovação foi muito maior do que se imaginava (53,4% das cadeiras na Câmara). É um índice alto para um sistema que tentou se proteger como nunca, com a campanha mais curta e a concentração do fundo eleitoral. Mas uma taxa de renovação alta não garante um Congresso melhor".

Surpresa nas urnas: "Há uma incompreensão do que estava acontecendo no Brasil e nas redes sociais. Mudou tudo. Estamos diante de uma nova direita organizada. Impressiona a incapacidade dos partidos tradicionais de operar como antes".

A ecruzilhada do PT: "O PT se agarrou ao Nordeste. Os pobres do Sul e do Sudeste, que votavam no partido, migraram para Bolsonaro. Há uma rejeição absurda ao partido. Haddad fez uma campanha ruim. Não avançou para o centro, não fez nenhuma inflexão. Ainda vai visitar o Lula hoje".

O fenômeno Bolsonaro: "O eleitor comprou o Bolsonaro como um João Doria nacional. Ele prometeu romper com a política tradicional e explorou a corrupção e o antipetismo como temas centrais. O fato de ter ficado calado depois da facada o ajudou. Ele não precisou discutir nada de concreto. O eleitor comprou um símbolo".

Efeitos da polarização: "O clima na sociedade não está bom. Essa eleição conseguiu dividir mais as famílias do que o impeachment. A polarização está saindo das redes e indo para as ruas. O sujeito que quebrou a placa da Marielle na terça se tornou o deputado mais votado do Rio no domingo. Teremos anos dolorosos pela frente".

08/10/2018


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