Agentes da PF estão nas ruas de Rio, SP, MG, RS e DF. Ação também acontece no Uruguai e no Paraguai
Por Chico Otavio e Daniel Biasetto
O Globo
Dario Messer, o "doleiro dos doleiros" no Brasil
Reprodução/Facebook
RIO — Agentes da Polícia Federal liderados pela força-tarefa da Lava-Jato estão nas ruas para cumprir 45 prisões contra doleiros envolvidos em um esquema de lavagem de dinheiro que atinge astronômica cifra de US$ 1,652 bilhão. O principal alvo da ação é o doleiro Dario Messer, apontado como "o doleiro dos doleiros" no Brasil. Policias federais cumprem, na manhã desta quinta-feira, mandados nos estados de Rio, São Paulo, Distrito Federal, Minas Gerais e Rio Grande do Sul e nos países Uruguai e Paraguai, onde acreditam estar Messer, por possuir dupla cidadania.
Batizada de "Câmbio, Desligo", a operação é realizada em conjunto com o Ministério Público Federal (MPF) e conta com o apoio das autoridades uruguaias. São 43 pedidos de prisão preventiva e dois de prisão temporária. No Rio, policiais federais cumprem mandados em endereços no Leblon e em Ipanema, na Zona Sul, onde foi preso Sergio Mizhay, outro doleiro alvo.
PF cumpre mandados no bairro do Leblon, Zona Sul do Rio, onde buscou pelo doleiro Dario Messer
Uanderson Fernandes / Agência O Globo
PF realiza operação contra doleiros em bairros de Ipanema e Leblon. Dario Messer é um dos alvos
Uanderson Fernandes / Agência O Globo
Principal alvo da operação, Dario Messer é ligado a escândalos nacionais desde o caso do Banestado. Como informou o colunista Lauro Jardim, o doleiro Toninho de Barcelona contou à CPI do Banestado, em 2005, que ele lhe repassou dinheiro do exterior para ser lavado para o PT. Filho de pai doleiro, Messer tem amigos que vão do presidente do Paraguai a Lucio Funaro e Ronaldo Fenômeno.
A Lava-Jato desbaratou o esquema a partir das delações dos operadores do esquema do ex-governador Sergio Cabral, Vinicius Claret, o "Juca Bala", e Cláudio Fernando Barbosa, o "Tony". Os dois formam um grupo de quatro gerentes liderados por Dario Messer para lavar o dinheiro. Os doleiros atuam no mercado paralelo de câmbio.
Prédio onde ficava o escritório de Juca Bala, em Montevidéu
Chico Otávio / Agência O Globo
Outros doleiros, como Sergio Mizhay e Enrico, também estão entre os alvos. A força tarefa da Lava-Jato apurou, a partir das delações, que havia um sofisticado sistema para fazer a lavagem de dinheiro. Juca Bala e Tony entregaram um sistema financeiro paralelo e online chamado "Bank Drop", que consistia nas telas do sistema para que fossem realizadas as operações de lavagem.UM MILHÃO POR DIA
Juca Bala e Tony chegaram ao Rio em dezembro, extraditados do Uruguai a pedido das autoridades brasileiras. Juca foi citado por outros dois delatores, os irmãos Renato e Marcelo Chebar. Também doleiros, eles revelaram que, quando o esquema de propina do ex-governador ficou grande demais, em 2007, tiveram de chamar Vinicius Claret para assumir as operações de lavagem.
Troca de e-mails entre Dario Messer e Oscar Algorta
Reprodução
Doleiros brasileiros e uruguaios se associaram para lavar o dinheiro do esquema comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral no exterior. A pista foi fornecida pelos os irmãos Renato e Marcelo Hasson Chebar, delatores da Operação Eficiência, que citaram a uruguaia María Esther Campa Solaris como titular de uma conta no banco Pictet & Cie, com sede em Genebra, onde Cabral teria escondido US$ 10 milhões (R$ 31,2 milhões) da propina levada para a Suíça. María Esther é secretária do advogado Oscar Algorta Rachetti, uruguaio já indiciado pelo juiz Sérgio Moro por também lavar dinheiro para o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró.
Doleiro Vinicius Claret, também conhecido como Juca Bala
05/03/2017
Além dos irmãos Chebar, Algorta era próximo de pelo menos mais um doleiro brasileiro. E-mails obtidos pelo GLOBO revelam que María Esther, em novembro de 2012, acertou uma viagem do advogado ao Rio, onde ficou hospedado durante quatro dias numa cobertura no Leblon, que pertence a Dario Messer.
Juca, segundo Renato Chebar, tinha uma estrutura no Rio para o recebimento em espécie dos valores da propina de Cabral.
O volume diário de operações nos anos de 2010 a 2016 foi de aproximadamente R$ 1 milhão. No sistema que desenvolveram para controlar as transações, estão relacionadas mais de 3 mil offshores, com contas em 52 países, e transações que somam mais de US$ 1,6 bilhão.
Foram solicitados e arresto de bens e valores no total de R$ 7,5 bilhões para restituição dos valores movimentados ilicitamente (R$ 3,7 bilhões) e reparação de danos morais coletivos.
03.05.2018
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