Os papéis não permitem saber se o presente foi entregue e qual a reação
das pessoas –se os devolveram ou os aceitaram. Eles revelam uma faceta
da política de boa vizinhança praticada por uma das principais
empreiteiras do país. Outras empresas adotam a mesma prática na
Esplanada dos Ministérios.
As listas da OAS trazem o nome do aniversariante, o que lhe será dado e, em alguns casos, observações cifradas.
Em outros casos, há anotações indicando que os presentes deveriam ser
definidos por outras pessoas, principalmente integrantes da cúpula da
empreiteira, como "CMPF", referência ao empresário Cesar Mata Pires
Filho, vice-presidente da OAS Engenharia.
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Reprodução |
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Lista de presentes que a OAS comprava para agentes políticos e empresários
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Os presentes variavam: ternos, gravatas, garrafas de uísque Blue Label
Special, vinhos da marca Pera Manca –produto português cujo preço pode
variar de R$ 200,00 a R$ 700,00 por garrafa– e "cortes", uma provável
referência a ternos.
Editoria de Arte/Folhapress
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No dia do aniversário da presidente Dilma Rousseff do ano passado, a
agenda não anota a entrega de presente específico, mas sim a observação
"combinar com J. Fortes". A identidade dessa pessoa não é esclarecida.
No caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a observação é "P.
Okamotto", possível referência a Paulo Okamotto, antigo assessor do
ex-presidente. O nome de Okamotto consta como sendo destinatário de um
"corte", que seria um terno.
Mesmo presente de um "corte" é indicado ao senador Aécio Neves (PSDB-MG)
no dia de seu aniversário, em 2013, e de diversos outros
aniversariantes, como os ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e José
Eduardo Cardozo (Justiça) e o senador da oposição José Agripino
(DEM-RN).
Para o ministro Guido Mantega (Fazenda), a OAS anotou uma gravata como presente.
O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e o senador Aloysio Nunes
Ferreira (PSDB-SP) constam como também tendo recebido uma gravata cada.
Mercadante nega. Aloysio confirma.
Para a ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, foi anotado um "kit churrasco".
Em homenagem ao aniversário do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu
(PT-SP), a OAS pretendia dar "vinhos". Em outra anotação sobre o
ex-ministro, surge a expressão "Pera Manca", marca de um vinho
português.
Para o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari, a OAS pretendia presentear "uma caixa de Pera Manca".
PETROBRAS
Em outro papel, uma planilha intitulada "relação de brindes H Stern que estão filial Rio" (veja o arquivo
), a OAS diz que já havia entregue "brindes" para cinco pessoas em
2011, dentre as quais Armando Tripodi, que foi chefe de gabinete de
Sérgio Gabrielli, que presidiu a Petrobras de 2005 a 2012. Tripodi
recebeu um relógio avaliado em R$ 10.619,00 em 13 de abril de 2011,
segundo a planilha
Outro aniversariante agraciado com o presente, segundo a planilha, foi o
deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ), que teria recebido uma "caixa
porta relógio", cujo preço anotado no papel é de R$ 4.950,00.
Uma observação no papel é que o material foi entregue "em mãos" por "dr.
Léo", referência ao presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho.
Solange Amaral (DEM-RJ), ex-deputada federal, teria recebido um relógio de R$ 4.977,00, segundo a tabela apreendida pela PF.
Conforme um e-mail de 31 de março de 2011 também apreendido pela PF na
Lava Jato, esses presentes entregues no Rio foram solicitados pelo
próprio presidente da OAS. Ele está preso na PF em Curitiba, junto com
outros três executivos da empreiteira.
OUTRO LADO
A Secretaria de Imprensa da Presidência informa que não há registro de entrega de presentes da OAS à presidenta Dilma Rousseff.
O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) "não recebeu presente da OAS.
Em 2013 a empresa entrou em contato para solicitar o endereço do
ministro, mas foi negado tal pedido", disse a assessoria.
O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) informou, por meio de sua
assessoria que "recebeu da empresa OAS um corte de tecido". "O ministro
não verificou se o tecido é próprio para a confecção de terno, nem
tampouco sabe avaliar o seu valor, por isso não devolveu o corte à
empresa e ainda o tem guardado".
Por meio de sua assessoria, o ministro Aloizio Mercadante informou que
não recebeu nenhum presente da OAS. O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP)
confirmou que ganhou uma gravata.
O prefeito Fernando Haddad disse que recebeu vários cortes de terno de
presente, mas afirma não se lembrar se algum deles foi da OAS. Haddad
diz que todo presente que recebe e não pode ser incorporado ao
patrimônio da prefeitura é doado a entidades.
A assessoria do ministro Guido Mantega (Fazenda) informou que todos os
presentes que excedem as recomendações da Comissão de Ética são
automaticamente devolvidos ou doados. Até o fechamento desta edição, o
gabinete não havia encontrado registro de recebimento de gravata dada
pela OAS.
A Folha tentou, mas não localizou as outras pessoas citadas como
destinatárias dos presentes. Armando Tripodi, chefe de gabinete da
presidência da Petrobras entre 2005 e 2012, não respondeu.
Colaboraram MÁRCIO FALCÃO, GABRIELA GUERREIRO, JULIA BORBA, MARIANA HAUBERT e SOFIA FERNANDES
05/12/2014
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