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sábado, 15 de novembro de 2014

Canalha minoritária e golpista macula protesto legítimo e democrático contra desmandos do governo petista. Mas ficou claro: trata-se de uma minoria repudiada por todos, inclusive pelas Forças Armadas


Pelo menos 10 mil pessoas pediram democracia; uns poucos idiotas é que pregaram golpe
(Felipe Rau/Estadão)



Por Reinaldo Azevedo


Os imbecis conseguiram.
Os idiotas chegaram lá.
Os zumbis se impuseram sobre os vivos.
Os estúpidos ganharam a ribalta.
A escória da democracia mostrou a fuça.

Pelo menos dez mil pessoas, segundo cálculos que me parecem modestos — e ainda farei outro post a respeito — participaram e participam ainda de um ato de protesto contra o governo Dilma. A esmagadora maioria pede a efetiva apuração dos casos de corrupção, cobra a punição aos larápios que assaltam o estado, repudia as ameaças de controle da mídia.

Leio, no entanto, o título da homepage da Folha Online:
“Pedido de ação militar racha protesto contra Dilma na Paulista”.

No Estadão Online:
“Pedido de intervenção militar racha protesto anti-Dilma na Paulista”.

No Globo Online:
“Defensores de intervenção militar dividem ato contra Dilma”
No UOL:
“Lobão abandona ato após pedido de ação militar”.

Retomo
Eis aí. Na manifestação anterior, um único cartaz de um único sujeito — coincidentemente entrevistado pelas respetivas reportagem de Folha e Estadão — bastou para que o protesto fosse tratado como manifestação golpista. Desta feita, havia um carro de som de um tal “Movimento Brasileiro de Resistência” — cuja existência desconheço, com muito gosto —, que pedia a intervenção militar no país.

As democracias não podem proibir a estupidez, ou democracias não seriam. As pessoas têm o direito de ser ignorantes. Mas eu também tenho o direito de repudiar a sua burrice. Se um único cartaz bastou para enviesar a cobertura jornalística do ato anterior, é evidente que um carro de som ganharia ainda maior saliência. Desta vez, ao menos, informa-se a coisa correta: o pedido de intervenção militar era coisa de uma minoria, que acabou marchando sozinha, por sua própria conta, até o Comando Militar do Sudeste.

Quem vai bater à porta de quartel é carpideira ou gente com vontade de lamber botas. Falaram para ninguém. Conheço generais da ativa que tratam essa gente por aquilo que é: um bando de trouxas, de oportunistas, que se aproveitam da justa indignação de pessoas decentes para lançar seu ridículo grito de guerra.

Por que esses celerados não dão ao menos um exemplo contemporâneo de governo militar que seja democrático e decente? Existem ditaduras militares no continente americano hoje? Sim. Qualquer pessoa informada sabe que a Venezuela, na prática, é uma. Cuba também. As fachadas socialista e comunista só escondem a real natureza do regime: são camarilhas militares que garantem a opressão.

Apanhei durante a ditadura. Fui perseguido com meros 16 anos. Repudio de modo absoluto esses asquerosos, que não sabem o que é democracia; que acabam, porque burros, legitimando o regime corrupto e de desmandos em curso. Se querem pedir ditadura, que marquem suas próprias manifestações.

Essa gente me dá nojo!

O ato da esquerda

Se o ato não é de esquerda, a imprensa tem especial predileção por dar destaque às bandeiras dos aloprados, em detrimento da expressão legítima e pacífica dos indignados? E claro que sim! E não há novidade nenhuma nisso. Todos conhecem os motivos. Jornalistas, na média, são preguiçosamente esquerdistas — no mais das vezes, por falta de informação, de leitura, de conhecimento da história e até por complexo de culpa mal resolvido. São muito poucos, se é que existem, os que deitaram os olhos em alguma teoria ou capazes de citar alguma obra de referência. Nada! Trata-se de um deserto de ideias, ornado por supostas boas intenções. Já tentei debater. É impossível. É de Wikipédia para baixo. Mas esse não e um dado novo na equação.

Querem ver? Este panfleto estava sendo distribuído na manifestação organizada na quinta por Guilherme Boulos.

Leiam:


E aí? O que lhes parece? Como se sabe, isso aí não mereceu nem sequer menção na grande imprensa e jamais iria parar num título. Por que não se publicou algo assim: “Em ato em defesa do governo Dilma, manifestantes pedem que Brasil vire uma grande Cuba”. Seria uma manchete mentirosa? Tão mentirosa e tão verdadeira quanto a informação de que, na semana passada, os que marcharam contra Dilma pediam intervenção militar. Talvez ainda haja uma diferença: caso se pergunte aos reais orgnizadores dos atos de protesto se apoiam um golpe, a resposta será “não”. Mas pergunte a Boulos se ele realmente não gostaria que o Brasil virasse uma Cuba continental.

Como vai piorar…

A situação política no Brasil está se deteriorando. As consequências dramáticas da Operação Lava Jato estão apenas no começo. Deixo aqui uma recomendação aos que organizam protestos: que, doravante, defensores de intervenção militar sejam literalmente isolados em manifestações assim. Que se crie uma espécie de cordão sanitário em torno dessa escória política, que odeia a democracia.

O Artigo 5º garante que alguém expresse a opinião de que uma intervenção militar é a saída para o Brasil? Garante! Mas que seja longe das pessoas decentes.

O bolsonarismo só é bom para os Bolsonaros

Leio, finalmente, no Estadão isto aqui:
“Não é o momento de pedir intervenção militar”, disse ao Estado o deputado eleito por São Paulo Eduardo Bolsonaro, um dos líderes mais celebrados do ato. Em um evento similar há duas semanas, ele foi fotografado portando um revólver. Dessa vez ele garante que está desarmado. “Tem gente armada por mim por aí”, afirmou.

Não sei o que esse cara que dizer com “Tem gente armada por mim”, mas suponho. E não me parece coisa boa. Bolsonaro pai ou Bolsonaros flhos sabem que nunca mais haverá intervenção militar no Brasil. Esse discurso barulhento, ambíguo e tendente à truculência que alimentam só serve para lhes render votos — e, portanto, as benesses correspondentes aos cargos públicos que ocupam.

Para eles, esse tipo de discurso agressivo e bronco é uma maravilha. Terão cada vez mais votos de uma minoria de extremistas sem importância. Mas esses senhores acabam é conspurcando a causa da democracia. Quem gosta de bolsanarismo é Jean Wyllys (PSOL-RJ), que sai gritando “fogo na floresta!” e multiplica seus votos por dez. Uma coisa é o oposto simétrico da outra. Wyllys arruma voto para os Bolsonaros, e os Bolsonaros arrumam votos para Wyllys. Sem Bolsonaro para praguejar sandices contra os gays, aquele rapaz seria só um ex-BBB em busca de notoriedade. Com a colaboração do discurso homofóbico do outro, virou celebridade “progressista”. Não caiam em truques vulgares assim. Se existe “gente armada por Eduardo Bolsonaro”, espero que seja ao menos dentro das regras legais — ou é prática similar ao banditismo.

E deixo claro: não adianta enviar para cá um bando de cachorros loucos para encher o meu saco porque não tenho medo de patrulha. Tenho asco de petralhas que assaltam os cofres públicos disfarçados de amigos do povo — e sei como combatê-los — e asco idêntico de oportunistas que se aproveitam da boa vontade alheia para colher benefícios e votos.

Meu amigo Lobão fez muito bem ao soltar os cachorros contra a canalha minoritária e golpista. E ainda escreverei um post aplaudindo a esmagadora maioria que estava na rua, composta de pessoas lúcidas.



15/11/2014


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