Por Reinaldo AzevedoPois é, pois é… A presidente da Petrobras, Graça Foster, tentou explicar no Senado a compra da refinaria de Pasadena. A tarefa, acreditem, poderia ter sido mais fácil se ela estivesse obrigada a dizer “ou bola ou bule”, ou uma coisa ou outra. Ocorre que o raciocínio aparentemente quântico, e incompreensível, que ela tentou desenvolver não deriva do excesso de sabedoria, mas do excesso de confusão. Graça pretende que seus interlocutores entendam que a compra fazia e não fazia sentido a um só tempo; que era e que não era justificável; que houve e que não houve comportamento heterodoxo nessa história toda.
Vamos ver. Numa das linhas de argumentação, a presidente da Petrobras tentou fazer com que os senadores entendessem que a compra de Pasadena — que se revelou, depois, segundo ela própria, um mau negócio — fazia sentido naquela hora. Afinal, disse, o Brasil ainda não havia chegado ao pré-sal (embora, convenham, não tenha sido uma surpresa, algo em que se tropece, né?); havia a escolha de comprar refinarias no exterior; as circunstâncias do mercado justificavam etc. Muito bem! Pode-se concordar ou não com os argumentos, mas é uma linha de defesa.
Ocorre que, ao mesmo tempo, Graça estava lá para sustentar a versão da presidente Dilma: o Conselho desconhecia as duas cláusulas consideradas polêmicas: a Put Option (que obrigava à compra da outra metade em caso de desentendimento entre os sócios) e a “Marlim”, que garantia à Astra Oil uma rentabilidade de 6,9% ao ano independentemente das condições de mercado. Pois é… Digamos que a primeira ainda possa ser corriqueira em negócios dessa natureza — afinal, o preço das coisas, não importa o quê, passa por uma avaliação abalizada do mercado. A segunda, tudo indica, não se vê todo dia por aí. Sim, já está evidenciado que Dilma e os demais conselheiros, com efeito, desconheciam essas duas cláusulas, seja uma delas comum ou não; seja a outra exótica ou não.
Ainda nesse ponto, atenção!: Dilma poderia não ter levado a bomba para explodir dentro do Palácio do Planalto. Poderia ter dito algo assim: “Olhem, eu não conhecia, ninguém conhecia, mas andei pesquisando e, mesmo com elas, o negócio fazia sentido!”. E segurasse o rojão, ora essa! Quando se é governo, perdoem-me o clichê, há o bônus, mas também há ônus. Mas quê!
Dilma foi a primeira a assumir a posição da ludibriada; Dilma foi a primeira a assumir o lugar da traída; Dilma foi a primeira a exercer o discurso da enganada; Dilma foi a primeira autoridade de peso a sustentar que a Petrobras havia sido, em suma, vítima de uma trapaça, de um memorial executivo omisso, que forneceu ao conselho informações apenas parciais. Ora, ela queria o quê? Que as oposições e, na verdade, milhões de brasileiros dissessem: “Pô, coitada da presidente! Foi enganada por aqueles caras da Petrobras!”. Como se fosse pouco, a presidente demitiu Nestor Cerveró, o então diretor da Área Internacional que cuidou da operação. Nunca se viu antes uma demissão retroativa como essa, com oito anos de atraso!
Em 2007, a ainda conselheira da Petrobras e ministra-chefe da Casa Civil, além de sedizente especialista em setor energético, já sabia de tudo, já tinha ciência do que, sugeriu mais tarde, era consequência de um engodo. E fez o quê? Nada! Ou, numa relação puramente vetorial, fez menos do que nada — e, pois, piorou o que era ruim: permitiu que Cerveró assumisse o cobiçado cargo de diretor financeiro da bilionária BR Distribuidora. E foi desse cargo que ela o demitiu, punindo-o por um ato praticado oito anos antes, do qual ela tem ciência há mais de sete. Aí não dá!
A presidente da Petrobras, Graça Foster, cobra demais de seus interlocutores; pede que condescendam com uma linha de argumentação e também com o seu contrário.
Honra ofendida
Graça reagiu com ar e inflexão meio ofendidos quando senadores sugeriam que a Petrobras virou, assim, uma espécie de casa da mãe joana — se não exatamente na sua gestão, na de José Sérgio Gabrielli. Sobrou sempre a sugestão de que se estava ofendendo a empresa. Aí, não, doutora! Que o loteamento político de cargos fez com que a empresa se transformasse no palco de uma engrenagem corrupta, isso é dado por uma pletora de fatos. “Ação isolada?” Segundo a própria Dilma, não! Se um diretor está na cadeia em razão das lambanças que praticou, outro, diz a ex-presidente do conselho, a enganava. De resto, Pasadena não é a única suspeita de ilícito na empresa, não é mesmo?
Não existe lugar para o discurso de Graça Foster.
15/04/2014
terça-feira, 15 de abril de 2014
O discurso sem lugar de Graça Foster. É impossível defender ao mesmo tempo a compra da refinaria de Pasadena e a explicação de Dilma
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