No livroO X da questão, uma autobiografia escrita com o jornalista Roberto D’Avila e lançada em 2011, o empresário Eike Batista
narra a própria trajetória no mundo dos negócios e dá sua receita para o
sucesso.
Eike era, então, o homem mais rico do Brasil e o oitavo do
mundo, com uma fortuna pessoal estimada em US$ 30 bilhões (cerca de R$
60 bilhões ao câmbio atual).
No livro, Eike exalta a própria capacidade
de transformar projetos em ouro e sua facilidade para captar bilhões no
mercado financeiro.
Fracassos anteriores, como uma fábrica de jipes e
uma empresa de encomendas expressas que ele tentara montar, entram na
história apenas para reforçar o êxito que viria depois.
“Uma convicção
se forjou em mim desde muito cedo: você cresce com as dificuldades. Ou
‘estresses’, como prefiro chamar”, diz Eike.
“O estresse separa os
homens dos meninos, os verdadeiros empreendedores dos que jamais
montariam um negócio por sua própria conta e risco.”
Eike não dá sinal, em nenhum momento do texto, de que estava prestes a
viver o maior estresse de sua vida empresarial.
Nas autobiografias
precoces, o capítulo seguinte acaba escrito pela vida real – e, no caso
de Eike, não seria o mais brilhante da história.
Pouco depois de lançar o
livro, as coisas começaram a desandar, no maior teste para sua
capacidade de crescer na adversidade. Seu império bilionário, erguido
velozmente em sete anos, começou a desmoronar em ritmo ainda mais
rápido.
O estouro da “bolha Eike” transformou-se em tema de conversas
entusiasmadas em Brasília, Londres e Nova York, nos bancos e na Bolsa de
Valores, nos jornais e nas mesas de bar.
Ele formou um dos maiores
grupos empresariais do Brasil, com projetos bilionários em áreas-chaves
da economia, como petróleo, energia, logística, construção naval e
portos.
No total, estima-se que eles já tenham consumido mais de R$ 50
bilhões, entre recursos captados na Bolsa e empréstimos feitos pelo
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por bancos
comerciais, estatais e privados.
“Apesar das dificuldades vividas pelo
grupo, é prematuro dizer que ele quebrará”, afirma o presidente de um
grande banco do país. Desde já, porém, pode-se dizer que o Eike que
sobreviverá deverá ser uma fração daquele que parecia ter conquistado o
Everest dos negócios.
“Eike nunca mais voltará ao patamar em que
estava”, diz Luiz Cezar Fernandes, sócio da Gradual Investimentos, de
São Paulo, e fundador do antigo banco Pactual, que deu origem ao BTG
Pactual.
Os principais veículos de economia e
negócios, que antes exaltavam Eike, noticiaram em reportagens recentes
os problemas que ele enfrenta.
No final de março, o Wall Street Journal publicou um artigo com o título “Para Eike Batista, a realidade chegou”.
No início de abril, uma reportagem da revista Forbes dizia
que “Eike Batista está se tornando rapidamente o pobre menino rico do
Brasil”.
“Outro dia, durante uma viagem de negócios ao exterior,
encontrei um grande investidor estrangeiro com muito caixa para aplicar,
sempre em busca de oportunidades no Brasil”, diz um gestor brasileiro
de fundos de risco.
“Ele investiu um bom dinheiro nos negócios do Eike e
estava louco da vida. Quando perguntei se ele continuaria a investir no
Brasil, ele disse: ‘Me arruma um brasileiro sério, em quem eu possa
confiar, que eu invisto agora’.”
Em 2012, Eike foi, disparado, o maior perdedor no ranking dos maiores
bilionários globais. Passou de 7º para 100º lugar na lista da revista
americana Forbes. Em um ano, sua fortuna pessoal diminuiu em dois
terços. Passou de US$ 30 bilhões para US$ 10,6 bilhões – uma perda
equivalente a US$ 53 milhões por dia ou US$ 2,2 milhões por hora.
Trata-se de um golpe duro para quem costumava alardear, em tom de
chacota, que não sabia se ultrapassaria o mexicano Carlos Slim, primeiro
colocado na lista, “pela esquerda ou pela direita”.
As principais
empresas do grupo EBX, que Eike controla, fecharam 2012 no vermelho.
(Todas as empresas de Eike têm, na sigla do nome, a letra X, o símbolo
da multiplicação.)
O prejuízo total ficou em R$ 2,5 bilhões. Só a OGX,
do setor de petróleo, perdeu R$ 1,1 bilhão. Na BM&F Bovespa, o valor
de mercado dos maiores empreendimentos de Eike caiu, de R$ 54,7
bilhões, na data de lançamento das ações, para R$ 16 bilhões, na última
sexta-feira, 26 de abril.
As razões da queda
O que, afinal, aconteceu?
Como um dos mais promissores e ousados
empreendedores brasileiros, alguém capaz de encantar Wall Street,
passou, de uma hora para outra, a depender da ajuda do governo para não
quebrar?
Para entender as razões da queda de Eike, é preciso penetrar
nos detalhes da complexa estrutura empresarial que ele construiu em
torno da letra X.
Como na Xanadu do imperador mongol Kublai Khan,
descrita pelo poeta romântico Samuel Coleridge, o castelo de Eike foi
projetado em torno de jardins de fertilidade, de onde o mel verteria
como gotas de orvalho e seria possível tomar o leite do Paraíso.
Suas
árvores eram identificadas pelas siglas OGX, OSX, LLX, MMX, MPX e CCX.
No centro, a petrolífera OGX, anunciada como uma nova Petrobras.
Como na
Xanadu descrita por Coleridge, porém, o castelo de Eike foi erguido no
ar.
A maior falha de Eike foi não entregar o que prometera em seus
projetos, em especial no caso da OGX. Ela chegou a representar três
quartos do grupo em valor de mercado, em 2011. Hoje, representa um
terço. Dos 30 blocos exploratórios de petróleo que a OGX detém, só três
estão em funcionamento e, mesmo assim, com produção limitada.
A promessa
era, já em 2011, extrair por dia 20 mil barris de petróleo, com apenas
um poço em operação. Em março passado, a OGX produziu 15.100 barris por
dia nos três poços que opera – 25% abaixo da meta. Não há, de acordo com
os analistas, perspectiva de aumento até 2014. A própria empresa
informa que seriam necessários 70 mil barris por dia para o balanço sair
do vermelho.
“Companhia de petróleo não é para qualquer executivo
chegar lá e fazer”, afirmou na semana passada a presidente da Petrobras,
Maria das Graças Foster, durante palestra na Fundação Getulio Vargas
(FGV), em São Paulo, em um recado velado a Eike.
De acordo com um ex-executivo do grupo X, Eike deveria ter se
concentrado no aumento da produção dos primeiros poços. Em vez disso,
gastou a maior parte do dinheiro captado de bancos e investidores para
furar novos poços. O objetivo era passar ao mercado a percepção de que
encontrara mais petróleo e, assim, captar mais recursos para financiar
sua expansão.
A produção em marcha lenta afetou as demais árvores plantadas, em torno
da OGX, no Xanadu de Eike. A missão da OSX, um estaleiro, seria
fornecer navios para transportar o petróleo da OGX – ou, nas palavras de
Eike, seria uma “Embraer dos mares”.
Em menor escala, o desempenho da
OGX afetou também a LLX, uma empresa de logística responsável pela
construção do Porto de Açu, no Rio de Janeiro, criado para atender
principalmente os petroleiros da OSX.
Contaminou até as outras três
companhias de Eike com ações negociadas na Bolsa – a MMX, do setor de
mineração, criada para ser uma “mini-Vale”, a MPX, de energia, e a CCX,
cujo principal ativo é uma mina de carvão na Colômbia.
Como um bom vendedor, Eike embalou bem os projetos que apresentou aos
investidores, com a promessa de gerar resultados em prazos relativamente
curtos.
A certa altura, começou a ficar claro que ele não cumpriria
suas metas. Com isso, a credibilidade de Eike, conquistada em negócios
anteriores na área de mineração ficou seriamente arranhada. Como costuma
dizer o próprio Eike, “o capital é covarde”.
Subitamente, as portas se
fecharam para ele. A bicicleta, impulsionada pelo dinheiro farto dos
bancos e do mercado de capitais, parou de girar.
O caixa para tocar os
projetos e honrar as dívidas de suas empresas, sem o ingresso das
receitas planejadas, ficou curto.
“Eike foi tão bom vendedor de seus
projetos e sonhos que ele mesmo acreditou na fantasia”, diz o economista
Rodrigo Constantino.
“A sensação é que ele juntou o egocentrismo e a
megalomania evidentes e surtou. Ficou tão grande que se achou
invencível.”
Eike Batista: "É preciso ter algum tipo de estresse"
De repente, o que antes era “vendido” por Eike como virtude quando as
coisas iam bem – a interdependência dos projetos da OGX, OSX e LLX –,
passou a trabalhar contra quando as coisas começaram a ir mal.
Eike
sabia tudo de mineração – um fato reconhecido pelo mercado –, mas quase
nada de petróleo e gás quando decidiu investir no setor.
Projetos que
encantaram os investidores tinham problemas.
O grupo nega, mas
empresários que atuam no setor de infraestrutura afirmam que a
construção do Porto de Açu foi iniciada sem os estudos geológicos
necessários.
Segundo eles, isso obrigou a LLX, responsável pelo
empreendimento, a instalar estacas mais profundas do que se previa
inicialmente, em razão do terreno arenoso, quase um mangue. Isso
aumentou os custos.
Empresários de mineração afirmam também que o
minério de ferro da MMX tem baixa qualidade e exige muita água para ser
limpo – informação também contestada pelo grupo de Eike. Resultado: mais
custos de produção.
Como se não bastassem as árvores de seus projetos bilionários na área
de infraestrutura, Eike plantou também diversas outras plantas e
arbustos em seu Xanadu.
Está envolvido na exploração de ouro, por meio
da AUX, e na produção de chips, por meio da SIX Semicondutores, cuja
fábrica fica em Ribeirão das Neves, Minas Gerais.
É dono de um
restaurante de comida chinesa e do Hotel Glória, no Rio, em reforma.
Tornou-se sócio do empresário Rubem Medina no Rock in Rio, por meio de
sua empresa de entretenimento, a IMX.
Criou até o próprio time de vôlei,
o RJX, com jogadores de seleção brasileira, como Bruninho e Dante.
Agora, quer assumir a gestão do Maracanã, que deverá reabrir
oficialmente para o público em junho, com um amistoso entre Brasil e
Inglaterra, pouco antes da Copa das Confederações.
Pretende, ainda,
implementar um projeto urbanístico que inclui um prédio na Marina da
Glória, um dos principais cartões-postais cariocas.
“Eike abriu demais o
leque”, afirma um banqueiro com experiência na reestruturação de
empresas. “Se ele tivesse escutado o pai (o ex-presidente da Vale,
Eliezer Batista), teria feito metade dos investimentos que fez. Agora,
está pagando o preço da ousadia.”
Uma intensa rotatividade de executivos, pouco usual em empresas de
grande porte, ampliou as dúvidas sobre a habilidade de Eike para tocar
os negócios e manter os talentos necessários a seu desenvolvimento.
Desde 2010, Eike trocou em suas empresas nada menos que 31 altos
executivos, entre eles nove presidentes. Seduzidos pelas promessas de
bônus generosos, boa parte em ações, muitos saíram quando Eike os
convidou a aplicar parte do que haviam recebido nas próprias empresas,
cujos papéis estavam em queda, após a quebra do banco americano Lehman
Brothers, em 2008.
A maior e mais conflituosa perda de Eike naquele período foi o
engenheiro Rodolfo Landim. Ele fora trabalhar com Eike em maio de 2006
como seu braço direito. Saiu em abril de 2010, por não ter concordado em
diminuir seus bônus e ceder parte das ações que recebera para
capitalizar os negócios de Eike.
Ex-funcionário de carreira da Petrobras
com respeitável conhecimento técnico do setor, Landim galgara os
degraus mais altos na estatal, como presidente da BR Distribuidora e da
Gaspetro.
Com Eike, liderou as operações bem-sucedidas de lançamento das
ações de cinco empresas do grupo X na Bolsa – MMX, MPX, LLX, OGX e OSX.
Pelas contas de Landim, a MMX, a primeira a abrir o capital, valia R$
600 milhões quando ele chegou. Quatro anos depois, quando saiu, o grupo
se multiplicara e se diversificara. Valia R$ 82,4 bilhões.
No período em
que esteve com Eike, Landim acumulou um patrimônio pessoal estimado em
R$ 200 milhões, entre salários, bonificações e ações, algo como R$ 50
milhões ao ano.
Hoje, dono de sua própria petrolífera, a Ouro Preto Petróleo e Gás, e
sócio da Mare Investimentos, uma empresa de gestão de recursos, Landim
disputa com Eike uma ação na Justiça que poderá torná-lo quase R$ 500
milhões mais rico.
Ele cobra uma participação de 1% na holding pessoal
de Eike, a Centennial Asset Mining Fund, com sede no Estado americano de
Nevada, que controla grande parte de suas ações nas empresas do grupo
X.
Segundo Landim, essa participação lhe fora prometida num bilhete
escrito por Eike numa viagem de avião de Londres para o Rio de Janeiro,
em dezembro de 2006.
A Justiça entendeu, porém, que o manuscrito não
tinha valor jurídico e rejeitou o pedido de Landim em segunda instância.
Seu advogado, Sergio Tostes, entrou com um embargo declaratório no
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, para questionar se Eike não
violou o “princípio da boa-fé”, ao alegar que o bilhete não tem valor
jurídico, apesar de reconhecer que ele o escreveu e o assinou. A decisão
final da corte ainda está pendente.
No começo de 2013, depois de 50 dias trabalhando como vice-presidente
da EBX, a holding do grupo, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidente da
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), pediu
demissão.
De acordo com quem convive ou conviveu com ele, Eike escuta
bem menos as opiniões de seu pessoal do que diz em seu livro. “O Eike é
um cara complicado”, diz Landim. “Ele gosta que as pessoas o elogiem o
tempo todo.”
As relações com o governo
Eike tem boas relações em várias esferas do governo e com políticos –
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao governador do Rio, Sérgio
Cabral.
Foi um dos principais doadores de recursos para as campanhas
eleitorais de ambos e também da presidente Dilma Rousseff.
Eike também
doou R$ 1 milhão para o filme Lula, o filho do Brasil, lançado em 2009.
Em janeiro, a bordo do jatinho de Eike, Lula o acompanhou numa visita ao Porto de Açu.
Conseguiu uma audiência com Dilma para conversar sobre a crise de seus
negócios. “Eike Batista não é diferente de nenhum outro empresário”,
afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
ÉPOCA revelou dias atrás a operação hospital que era articulada em
Brasília para ajudar Eike a sanar os problemas do Porto de Açu.
O
empreendimento ainda não atraiu investimento suficiente para torná-lo
sustentável sem os embarques de petróleo da OGX previstos no projeto.
A
pedido de Lula, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel,
acionou o embaixador brasileiro em Cingapura, Luís Fernando Serra.
Ele
atuou como intermediário para tentar convencer a empresa SembCorp Marine
a transferir o estaleiro Jurong Aracruz do Espírito Santo para o Porto
de Açu.
Com a divulgação do lobby de Eike, a operação foi abortada.
Também poderá
encomendar navios e plataformas à OSX, que tem capacidade ociosa.
Talvez
até adiante algum dinheiro para a empresa de Eike, antes mesmo de
receber as encomendas. “É um negócio, não se trata de ajuda”, afirmou
Graça Foster, da Petrobras, ao comentar as negociações com o grupo X.
“Como o Eike se dimensionou para uma OGX muito maior, ele agora tem
braços especializados e equipamentos, mas não tem óleo, enquanto a
Petrobras tem óleo, mas não tem equipamentos suficientes para fazer a
extração”, diz um banqueiro familiarizado com as negociações.
“Deve
haver um ponto de intersecção construtivo para as duas companhias.”
Também se discute no governo o leilão de um trecho que ligará o Porto
de Açu à malha ferroviária nacional. O BNDES, que irrigou generosamente
as empresas do grupo X, poderá conceder novos créditos ou até comprar
mais ações – hoje, o banco já detém participações relevantes em duas,
CCX e MPX, de 11,72% e 10,34%, respectivamente.
Na semana passada, o
BNDES anunciou um crédito suplementar de quase R$ 1 bilhão para a
mineradora MMX. Nascido para operar por conta própria, longe dos úberes
generosos do Estado, o grupo de Eike poderá se tornar cada vez mais
dependente das benesses oficiais.
A operação salvamento de Eike também tem outros atores. No início de
março, uma parceria foi fechada com o BTG Pactual, do banqueiro André
Esteves, para reestruturar o grupo X.
Apoiada pelos principais credores,
ela incluiu uma linha de crédito adicional de R$ 1,3 bilhão, além dos
cerca de R$ 300 milhões que o BTG já emprestara a Eike.
Como Eike,
Esteves cultiva boas relações em Brasília, e seu apoio poderá ajudar o
grupo X a receber dinheiro do governo.
O retrospecto de Esteves no
mercado financeiro sugere que dificilmente ele se envolveria com os
negócios de Eike se não acreditasse que é possível salvá-los e lucrar
com isso.
ÉPOCA apurou que, se tiver sucesso, sua remuneração deverá ser
calculada com base na valorização dos papéis de Eike na Bolsa, tendo
como base o dia do fechamento da parceria, em 6 de março.
Até agora, a
reação dos investidores não correspondeu às expectativas. Os preços das
ações da OGX caíram cerca de 40% desde então.
Em 2014, se a empresa
aumentar a produção de petróleo, é possível que haja um salto nas
cotações.
O impacto da crise
Numa reviravolta inimaginável até pouco tempo atrás, Eike é hoje
lembrado mais por suas dívidas que por sua fortuna, mais pelas
dificuldades de seus negócios que por suas conquistas.
Só o BNDES
emprestou R$ 10 bilhões ao grupo, incluindo o crédito à MMX em abril.
Desse total, estima-se que Eike ainda esteja devendo R$ 5,5 bilhões ao
BNDES.
Como boa parte dos empréstimos foi repassada às empresas do grupo
por bancos comerciais, são eles que assumem o risco das operações, e
não o BNDES, diz um dos credores.
A exposição direta do BNDES ao grupo X
é, segundo ele, inferior a R$ 500 milhões – R$ 109 milhões, de acordo
com Eike.
No total, incluindo os repasses do BNDES, os bancos comerciais têm
cerca de R$ 16 bilhões emprestados às empresas de Eike.
Perto de R$ 3
bilhões foram concedidos à EBX, holding do grupo, pelo Itaú Unibanco e
pelo Bradesco, os maiores credores, a maior parte com garantia em ações
das empresas.
Nos últimos meses, a desvalorização dos papéis gerou
desconforto nos dois bancos, especialmente no Itaú, que passou a cobrar
novas garantias e ameaçou não renovar os empréstimos.
No final, o
problema parece ter sido resolvido, ao menos temporariamente.
Ainda é preciso incluir na conta cerca de US$ 3,6 bilhões (R$ 7,2
bilhões) em papéis emitidos pela petrolífera OGX no exterior e vendidos a
investidores privados.
Somando todas as dívidas do grupo, o total gira
em torno de R$ 25 bilhões, além dos cerca de R$ 27 bilhões captados no
mercado acionário.
A Moody’s, uma das maiores empresas internacionais de
classificação de risco, anunciou em abril o rebaixamento da avaliação
da OGX e deixou aberta a possibilidade de fazer novo rebaixamento no
futuro.
Curiosamente, a desvalorização dos papéis até agora foi menor
que a das ações da empresa.
Para tentar contornar essa situação dramática, o BTG sabe que é
preciso, antes de tudo, resgatar a confiança dos investidores.
Na visão
do banco, MMX, MPX e CCX, além da AUX, a mineradora de ouro, de capital
fechado, são projetos que funcionam de forma relativamente independente.
A LLX também é um caso visto como menos problemático que OGX e OSX,
pois é um projeto que pode ser implementado em fases, de acordo com a
demanda e a disponibilidade de caixa.
“O grande problema são as empresas
que começam com O”, diz um executivo envolvido na parceria. São aquelas
que dependem de óleo.
Uma equipe de sócios e executivos do BTG está mergulhada no grupo X,
para fazer uma avaliação de cada negócio e adequar a gestão a novas
metas.
Como o grupo X precisa gerar caixa rápido, está em andamento uma
renegociação das dívidas.
Poderá haver redução do ritmo ou até a
paralisação de projetos.
A venda de participações e de ativos também
deverá reforçar o caixa.
No final de março, foi anunciada a venda de
metade da participação de Eike na MPX para a E-On, maior empresa de
energia da Alemanha, por R$ 1,4 bilhão.
Agora, há rumores de que o BTG
está negociando a venda de uma fatia da OGX, o epicentro da crise, para a
Lukoil, segunda maior petrolífera da Rússia, ou para a Petronas, a
estatal de petróleo da Malásia.
No final, a participação de 60% a 70% que Eike detém no capital das
empresas do grupo X deverá diminuir para 20% ou 30%, como no caso da
MPX.
As empresas precisam de sócios que entrem com dinheiro para ajudar a
levar os projetos adiante.
Eike, em vez de se envolver no dia a dia,
deverá continuar no Conselho de Administração das empresas. Só coletará
dividendos se – e quando – as empresas derem lucro.
Diante de seu perfil arrojado, muita gente vê Eike como arrogante e
parece torcer para vê-lo beijar a lona.
Num país carente de
empreendedores capazes de correr riscos e ter sucesso graças a seu
arrojo e tino empresarial, que possam servir de exemplo não apenas para
os mais jovens, mas para toda a sociedade, seria uma derrota ver alguém
como ele acabar dependendo de favores do governo para sobreviver.
Qualquer que seja seu futuro, porém, seu caso trará lições para as novas
gerações.
Se conseguir se recuperar, ele poderá se tornar um exemplo de
como é possível aprender na adversidade e reerguer um império abalado.
Ou – caso ele perca, seja obrigado a recorrer ao governo ou a se
desfazer de suas empresas – de como o pior inimigo de um homem de
negócios pode ser a confiança em si mesmo.
Em ambos os cenários, uma
coisa sua história já deixou clara: os castelos erguidos no ar e os
jardins de Xanadu só existem nos sonhos e nos versos românticos.
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