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terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ele não é milionário, é bilionário...

MILIONÁRIOS NÃO DEIXAM DE SER MILIONÁRIOS!


“Os pobres dos países ricos são menos
pobres do que os pobres dos países pobres.
Mas os ricos dos países pobres não são
mais pobres do que os ricos dos países ricos!”
Jô Soares


Waldo Luís Viana*


Milionários, governando o povo, não dão certo, a não ser para eles próprios! Eis aí o cerne do drama do Rio de Janeiro.


Os milionários não podem e não querem resolver nossos problemas de segurança e violência, porque só pensam em aumentar as fortunas e, quando se voltam para a vida pública, ocupam-se em dilatar o próprio poder, colonizando a máquina estatal e visando às próprias reeleições ou de seus seguidores.

O objetivo, como classe, é fazer carreira, sempre atrás do objetivo oculto: a “convivência agradecida” com os poderes federais e a presidência da República.




Milionários cercam-se de milionários menores para administrar e só ouvem os que consideram bem-sucedidos, ou seja, quem tem no bolso ou no patrimônio mais de um milhão de dólares.

Fora desse estreito círculo, a interlocução é apressada, pouco respeitada e vista de cima para baixo, isto é, o milionário governante raciocina mais ou menos assim: “estou falando com algum emergente que pretende melhorar de vida, convencendo-me de algum tópico ou tema de seu estrito interesse”. E se aborrece com as audiências, mudando logo de assunto!


Nesse cenário, é óbvio que as “soluções” são sempre paliativas e não ousam tocar nas questões de fundo.

Ouvimos os papos antigos de reunificação das polícias, refundação do aparelho de segurança, utilização das forças armadas para patrulhar as fronteiras, ocupação dos morros com contingentes do Exército, enfim, um blá-blá-blá quase mórbido, diante da realidade de mais de mil favelas e de três ou quatro organizações de traficantes, armados até os dentes, dominando a geografia carioca de cima para baixo – tudo isso misturado à eterna e inefável corrupção policial, que já virou até objeto de troça no plano internacional.



E no chão e nos cemitérios, milhares de mortos... Pobre Olimpíada!


São oferecidos os mesmos remédios:

aumento de verbas para aplicar nas polícias, sempre desaparelhadas e mal remuneradas;

aumento da repressão, chamada pomposamente de “enfrentamento”, com a “pacificação” posterior de umas dez favelas (em mil), sob ocupação permanente;

transferência da cúpula do tráfico para prisões federais, já que as penitenciárias cariocas são hotéis de primeira classe, e algumas pálidas medidas de inclusão do Estado ausente, nas favelas.

As populações pobres, sob protesto difuso, reagem desesperadas e queimam pneus e ônibus, recebendo em troca milhões de balas perdidas de bandidos e autoridades policiais.


E as migalhas dos milionários são oferecidas às comunidades, logo depois, mediante discursos e bandas de música: sempre os mesmos paliativos, concedidos senhorialmente por quem acha que o povinho é muito burro e aceita qualquer coisa!
Todos sabem, inclusive o governo federal, que as políticas indicadas são mero enxugamento de gelo, porque são objetivos estratégicos gerenciados por milionários.


No íntimo, essas figuras que nos governam não entendem como são tão exitosos em suas atividades econômicas, financeiras, comerciais e agrárias, mas não conseguem controlar a realidade da bandidagem, a opinião pública e a pressa dos fatos.

Como cinderelas e maria antonietas vão vivendo, entre jantares pomposos, viagens contínuas ao exterior, hotéis cinco estrelas e reuniões intermináveis – sempre retorcendo os fatos e não tocando no fundamental.


Porque o fundamental para os milionários não é a nossa segurança nem tampouco as necessidades reais do povo.

Eles têm outros objetivos: precisam de recursos (vejam só!) para ser reconduzidos nas próximas eleições, pessoalmente ou por prepostos, seguidores e colaboradores, aplicando-se jeitosamente na criação dos caixas 2 e 3.

Afinal, milionário não quer deixar de ser milionário e, para tanto, precisa continuar colonizando e privatizando a máquina estatal, aproveitando as brechas da lei de concorrências e licitações, na certeza de que necessita de verbas para continuar comprando indefinidamente políticos e cabos eleitorais e de que dinheiro público não é realmente na prática propriedade de ninguém...


Milionário no Brasil não quer deixar nada para a posteridade. Não tem aquela hipocrisia calvinista norte-americana de legar alguma coisa para filhos e netos dos outros. Milionário brasileiro é sempre pelo aqui e agora (Mateus, primeiro os meus!) e pela manutenção do poder a qualquer custo, não acreditando em Deus nem em predestinação...


Vimos o pan-americano, que custou o triplo do que foi orçado e agora teremos a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Os esquemas já estão todos prontos e são invulneráveis, porque geridos pelos colonizadores públicos, que tratam desde logo de desativar as máquinas de fiscalização, esquálidas e pouco sofisticadas, para não serem inibidos nas eternas práticas de superfaturamento de orçamentos, obras e verbas.

Tudo diluído entre lobistas, empreiteiras, ONGs, empresas de fachada, paraísos fiscais e outras práticas que não vale a pena nomear aqui. Diante da capacidade mafiosa desses grupos, a traficância e a bandidagem são meras atividades de “peixes pequenos” – como disse nosso grande filósofo Fernandinho Beira-Mar.



Os petistas, ocupados nas prefeituras em “operar” no saneamento, no lixo e nas empresas de ônibus para obter reeleições e, no plano federal, com mensalões e PACs de fachada – não tocaram na essência da política dos milionários.

Como fazê-lo, se os atuais governantes são ambiciosos emergentes, espalhados pelas estatais com a aparelhagem pelega e sindicalista?

Brasília, nossa ilha de fantasia, expressão modernosa do polvo gigantesco e bandido, é um paraíso fiscal dentro do atônito Brasil, que olha toda a festa sem poder fazer nada, mas recebendo diligentemente as migalhas atenciosas dos governantes atentos.


Agora os milionários se voltam para as eleições de 2010. Será uma época de delirium tremens para as oligarquias e plutocracias. Depois de concederem o possível ao povo para receber os votos devidos, após as ridículas promessas oferecidas mesmo com Internet e vídeo tape, no alvorecer de janeiro de 2011 vão esquecer tudo o que disseram e cortar fundo na carne do populacho que aceita tudo e perde tudo, primeiro a vergonha, depois o poder, no leilão interminável de virtudes públicas.

O brasileiro nada pode diante desse quadro.

É uma raça agachada, em termos de cidadania, diante da majestade dos milionários. Uma luta desigual entre a maioria fraca e a minoria endinheirada, sempre forte e que não perde nunca!

A cúpula governista que está aí não mexeu nenhum tantinho no atual quadro dantesco e pouco evidente. Nesse sentido, o governo petista é superconservador, porque não interfere no fundamental.



Nem o presidente jamais cuidou de intervir, de fato, nesse cenário. Aliás nem pode. Ele não é milionário, é bilionário...

*Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta, milionário

espiritual e se diverte muito. Escreveu, em 1988, um livrinho sobre abuso de poder econômico nos pleitos eleitorais: Eleições, a Verdade do Seu Voto, hoje arquivado na Biblioteca do Congresso norte-americano, e disponível em algumas editoras pela Internet.

Teresópolis, 29 de outubro de 2009.

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