Arnaldo Jabor
A entrevista de Jarbas Vasconcelos na revista Veja desta semana é uma rara ilha de verdade neste mar de mentiras em que naufragamos. Precisávamos dessas palavras indignadas que denunciam a rede de mediocridade política e de desagregação de poderes que assola o País, do Congresso ao Executivo.
De dentro de casa, Jarbas berrou: "O PMDB é corrupto!" e mostrou como esse partido nos manipula, sob o guarda-chuva do marketing populista de Lula.
O que Jarbas Vasconcelos atacou já era voz corrente entre jornalistas, inclusive o pobre-diabo que vos fala.
Mas sua explosão é legítima e incontestável, vinda de um dos fundadores do MDB, depois transformado nessa anomalia comandada pelo Sarney que é o líder sereno e hábil da manutenção do atraso em nossas vidas.
Duvidam?
Vão a São Luís para entender o que fez esse homem com seu jaquetão impecável há 40 anos no poder daquele Estado.
Jarbas aponta:
"A moralização e a renovação são incompatíveis com a figura do senador Sarney, (...) que vai transformar o País em um grande Maranhão."
Mais que um partido, o PMDB atual é o sintoma alarmante de nossa doença secular. Era preciso que um homem de estatura política abrisse a boca finalmente, neste país com a oposição acovardada diante do Ibope de Lula.
Estamos aceitando a paralisia mental que se instalou no País, sob a demagogia oportunista desse governo. O gesto de Jarbas é importante justamente por ser intempestivo, romanticamente bruto, direto, sem interesses e vaselinas.
É mais que uma entrevista - é um manifesto do "eu sozinho", um ato histórico (se é que ainda sobra algo "histórico" na política morna de hoje).
E não se trata de um artigo de denúncia "moral" ou de clamor por "pureza"; é um retrato de como alianças espúrias e a corrupção "revolucionária" deformaram a própria cara da política brasileira.
Lula revalidou os velhos vícios do País, abrindo as portas para corruptos e clientelistas, em nome de uma "governabilidade" que nada governa, impedido pela conveniência e interesses de seus "aliados".
É como ser apoiado por uma máfia para combater o mal das máfias.
Jarbas não tem medo de ser chamado de reacionário pelo povão ou pelos intelectuais que ainda vivem com o conceito de "esquerda" entranhado em seus cérebros, como um tumor inoperável.
Essa palavra "esquerda" ainda é o ópio dos intelectuais e "santifica" qualquer discurso oportunista.
Na mitologia brasileira, Lula continua o símbolo do "povo" que chegou ao poder. A origem quase "cristã" desse mito de "operário salvador", de um Getúlio do ABC, lhe dá uma aura intocável. Poucos têm coragem de desmentir esse dogma, como a virgindade de Nossa Senhora.
A última vez que vimos verdades nuas foi quando Roberto Jefferson, legitimado por sua carteirinha de espertalhão, botou os bolchevistas malucos para correr.
Depois disso, chegou o lulo-sindicalismo, ou o peleguismo desconstrutivo, que empregou mais de 100 mil e aumentou os gastos federais de custeio em 128 por cento.
O lulismo esvazia nossa indignação, nossa vontade de crítica, de oposição. Para ser contra o quê, se ele é "a favor" de tudo, dependendo de com quem está falando - banqueiros ou desvalidos?
Ele põe qualquer chapéu - é ecumênico, todas as religiões podem adorá-lo.
Ele ostenta uma arrogância "simpática" e carismática que nos anestesia e que, na mídia, cria uma sensação de "normalidade" sinistra, mas que, para quem tem olhos, parece a calmaria de uma tempestade que virá para o próximo governante.
Herdeiro da sensata organização macroeconômica de FHC que, graças a Deus, o Palocci manteve (apesar dos ataques bolchevistas dos Dirceus da vida), Lula surfou seis anos na bolha bendita da economia internacional, mas não aproveitou para fazer coisa alguma nova ou reformista.
Lula tem a espantosa destreza de nos dar a impressão de que "tudo vai bem", de que qualquer crítica é contra ele ou o Brasil.
Como disse Jarbas em sua entrevista, o governo do PT "deixou a ética de lado e não fez reformas essenciais, nem nada para a infraestrutura e o PAC não passa de um amontoado de projetos velhos reunidos em pacote eleitoreiro (...) e o Bolsa-Família, que é o maior programa oficial de compra de votos do mundo, não tem compromisso algum com a educação ou com a formação de quadros para o trabalho".
A única revolução que deveria ser feita no Brasil seria o enxugamento de um Estado que come a nação, com gastos crescentes, inchado de privilégios, um Estado que só tem para investir 0,9% do PIB.
A tentativa de modernização que FHC tentou foi renegada pelo governo do PT.
Lula fortaleceu o patrimonialismo das velhas oligarquias e o PAC é uma reforma cosmética, como a plástica da Dilma, que ele quer eleger para voltar depois, em 2014.
Em cima dos 84% de aprovação popular, nada o comove. Só se comove consigo mesmo.
Lula se apropriou de nossa tradicional "cordialidade" corrupta para esvaziar resistências. Assim, ele revitalizou o PMDB - o partido que vai decidir nosso futuro!
Hoje, não temos nem governo nem oposição - apenas um teatro em que protagonistas e figurantes são o PMDB.
E no meio disso tudo: o Lula, um messias sem programa, messias de si mesmo. 84% do povo apoia um governo que acha progressista e renovador, quando na verdade é ultraconservador e regressista.
Nem o PT ele poupou para "conservar" a si mesmo.
O PMDB é sua tropa de choque, seu "taleban" molenga e malandro.
Agora... tentem explicar esse quadro que Jarbas sintetiza com a clara luz de sua entrevista para um pobre homem analfabeto que descola 150 reais por mês do Bolsa-Família...
Vivemos um grande autoengano.
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