Castelo medieval
por Maiá Menezes, Maria Lima e Bernardo Mello Franco
Os velhos hábitos que se consolidaram no Congresso com a eleição da nova Mesa Diretora têm contornos medievais. O novo corregedor da Câmara, deputado Edmar Moreira (DEM-BA) construiu um "conjunto arquitetônico inspirado em castelos europeus" - diz a propaganda (em três idiomas) de venda do imóvel, de 192 hectares, no distrito de Carlos Alves, em São João do Nepomuceno, na Zona da Mata mineira.
Na declaração de bens do filho de Edmar, Leonardo Moreira, ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Minas, em 2006, ele informa possuir um terreno na área rural de Carlos Alves no valor de R$ 3.196.000. Na de Edmar Moreira, aparece um imóvel no valor R$ 17,5 mil, no mesmo distrito, em uma praça a cerca de dois quilômetros do castelo.
O Castelo Monalisa é apontado, na região, como propriedade do "capitão", apelido dado a Edmar, filho de um carteiro e de uma professora primária, que se aposentou como capitão da Polícia Militar. O castelo vale, segundo corretores de imóveis, entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões. São 36 suítes com hidromassagem, distribuídas em oito torres com inspiração medieval, salões para festas, sauna, piscina, lagos para pescaria e estrutura para golfe. Uma arquitetura que se destaca no vilarejo de cerca de 1,2 mil habitantes.
Edmar gosta de abrir os portões dos 7.500 metros quadrados de área construída para festas regadas a vinhos guardados em uma adega com capacidade para oito mil garrafas. Em 1993, no auge do prestígio político, ele recebeu a visita do então presidente Itamar Franco. Se franqueasse o palacete para que os colegas parlamentares para lá transferissem os menores gabinetes da Câmara (com 33,7 metros quadrados), conseguiria abrigar 222 deputados.
O corregedor declarou ao TRE de Minas, em 2006, a propriedade de duas empresas de segurança (a F. Moreira Vigilância e a Ronda Equipamentos e Serviços de Segurança). Foram delas as maiores doações à sua campanha a deputado em 2006: R$ 104 mil, do total de R$ 207,2 mil. Ele disse possuir R$ 9 milhões em ações, imóveis, veículos, aplicações financeiras e dinheiro em espécie.
O apartamento onde Edmar mora com a família custaria R$ 331 mil, segundo sua declaração. Trata-se de um tríplex no bairro de Higienópolis, em São Paulo - endereço do craque Ronaldo. Dos 14 projetos de lei apresentados por Moreira desde 1991, dois tratam do mesmo assunto: a privatização dos serviços de segurança em presídios, que abriria uma nova oportunidade de negócios para suas empresas. Procurado, ele se recusou a falar sobre seu patrimônio: -
Hoje eu não estou bom. Se falo que uma coisa é branca, vocês escrevem que é preta. E dos meus particulares é que não falo nada mesmo.
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"Um palácio luxuoso, com interior requintado aos mínimos detalhes e um salão de jogos que atraía dezenas de políticos e empresários. Tinha até caça-níquel". Assim foi descrito o castelo Monalisa, a imponente obra erguida nos anos 80, na zona rural do pequeno distrito de Carlos Alves, município de São João Nepomuceno, na Zona da Mata mineira, pelo atual corregedor da Câmara, deputado federal Edmar Moreira (DEM).
Um ex-funcionário do castelo, morador da cidade de Goianá, na mesma região, concordou em falar a O TEMPO sobre o interior do imóvel, desde que seu nome fosse mantido em sigilo.
Ele, que disse ter trabalhado para Moreira como servente entre 1991 e 1996, afirmou que um dos xodós do atual corregedor da Câmara é o "imenso cassino, construído perto da torre principal do castelo". "O local era frequentado por muitos políticos e empresários da região. Um dos que me lembro de ter visto muito lá foi o (ex-prefeito de Juiz de Fora Carlos Alberto) Bejani", revelou o ex-funcionário, dizendo que não poderia confirmar outros nomes porque não conhecia os políticos. "A gente sabia que eram políticos porque os seguranças nos avisavam, mas lá todos tinham tratamento de barão".
"O mais famoso que a gente sabe que esteve lá foi o Itamar (Franco). Afinal, era 1993, quando ele era presidente", disse, explicando que o ex-presidente foi recebido por Moreira, mas não participou de jogos no interior do castelo.
Ainda sobre o interior do imóvel, o ex-servente explicou que o luxo não era o que mais chamava a sua atenção. "Ficávamos todos impressionados com a quantidade de dinheiro que os convidados perdiam lá. A gente via muito dinheiro indo para os cofres. Era uma infinidade de notas de R$ 50 e R$ 100", revelou. "O que também atraía muito os convidados era a adega do castelo. Claro que nunca contei, mas havia ao menos 8.000 garrafas. A adega é enorme, climatizada. Ele (Moreira) dizia que o vinho sempre tinha que ficar em temperaturas europeias".
Segundo o ex-funcionário, para receber os jogadores - "normalmente aos fins de semana" -, o castelo era preparado com três dias de antecedência. "Tudo era muito bem planejado. Dentro do castelo, havia uma grande mesa com roleta, máquinas caça-níquel, bilhar e jogos de cartas".
"Éramos uns 60 empregados por noite. O salão é muito grande, difícil até de limpar. Tinham pelo menos três grandes lustres, uma lareira e duas grandes escadarias", completou o ex-funcionário, dizendo ainda que "muitos convidados passavam a noite lá e, pela manhã, ainda disputavam partidas de golfe".
Em recente entrevista em Brasília, Edmar Moreira demonstrou irritação ao ser questionado se havia funcionado um cassino no castelo: "Está questionando que estou praticando contravenção?", retrucou.
O objetivo do deputado federal Edmar Moreira (DEM-MG) ao construir o castelo Monalisa, em São João Nepomuceno, não era apenas criar um espaço para entretenimento. Ele estaria planejando criar um polo de divertimento com acesso fácil, incluindo até um aeroporto a cerca de 40 quilômetros da cidade onde fica a sua megaconstrução. Edmar teria a intenção de ser um empresário de sucesso no ramo de jogos.
Quando foi eleito deputado federal pela primeira vez, em 1989, uma das principais discussões no Congresso girava em torno da liberação ou não dos vários tipos de jogos considerados de azar, como os cassinos. Edmar Moreira inclusive apresentou um projeto para a legalização da prática.
Na época, o então presidente Itamar Franco também manifestou o interesse em instalar um novo aeroporto regional próximo ao seu reduto político. Duas áreas estavam sendo estudadas: uma em Lima Duarte e outra em Goianá. Edmar teria convencido o ex-presidente a instalar o aeroporto na segunda localidade. O motivo seria a proximidade de seu castelo. Enquanto Lima Duarte fica a 122 km de São João Nepomuceno, Goianá fica apenas a 40 km.
No entanto, a ideia do deputado mineiro de legalizar o jogo no Brasil perdeu força dentro do Congresso e acabou sendo deixada de lado, o que teria sido um duro golpe nas pretensões de Edmar Moreira. Após o arquivamento da proposta, o projeto de construção do aeroporto em Goianá também foi engavetado durante muitos anos. Porém, segundo relatos de moradores da região, ouvidos pela reportagem de O TEMPO, o parlamentar teria continuado os negócios no castelo Monalisa, na clandestinidade.
Escolha. Quando Itamar Franco foi eleito governador de Minas Gerais, em 1998, ele retomou a ideia de construir um novo terminal na Zona da Mata, em parceria com o governo federal. Técnicos da Infraero foram à região visitar as opções apresentadas em Goianá e Lima Duarte. Mais uma vez, o deputado Edmar Moreira teria exercido pressão para que a área mais próxima ao Monalisa fosse indicada. E foi o que ocorreu.
A escolha causou desconfiança entre a população local, principalmente devido às dificuldades de acesso ao terminal. O prefeito de Lima Duarte na época da definição, Carlos Alberto Barros, não entende até hoje a opção. "Achei estranho. A estrada de Goianá é péssima, estreita e cheia de curvas. Aqui teríamos a BR-267 passando na porta do aeroporto. Não sei o que lá tem a mais", disse o ex-prefeito.
O aeroporto de Goianá foi construído entre 2001 e 2005 e custou aproximadamente R$ 80 milhões. No entanto, passou dois anos deserto esperando homologação da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), que só veio em 2007.
Com uma pista de cerca de 2,5 quilômetros (maior do que a do aeroporto de Congonhas, em São Paulo), o terminal está longe de operar em sua capacidade. Faltam ainda equipamentos e, principalmente, um acesso melhor. Atualmente, a pista é utilizada por aviões executivos e só durante o dia. O governo do Estado já prometeu investir R$ 50 milhões na reforma da rodovia que liga o aeroporto a Juiz de Fora.
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